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sexta-feira, 18 de maio de 2018

Marcello Quintanilha lança novo livro e fala sobre roteiro na sede da editora Veneta






Marcello Quintanilha lança novo livro e fala sobre roteiro na sede da editora Veneta


Evento também promove a adaptação cinematográfica da premiada graphic novel, Tungstênio, que chega aos cinemas em junho, e conta com as participações de Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Heitor Dhalia, roteiristas e diretor do filme.
Por Cesar Alves


No próximo sábado, dia 19 de maio, a editora Veneta abre suas portas para um encontro com um dos nomes mais importantes dos quadrinhos brasileiros, Marcello Quintanilha, para o lançamento de seu mais novo trabalho, Todos os santos, que acaba de ser publicado pela casa. O evento promove um bate-papo com o autor sobre o novo livro e também sobre criação de roteiro para cinema a partir dos quadrinhos. Caso de sua graphic novel, Tungstenio, que acaba de ganhar adaptação cinematográfica dirigida por Heitor Dhalia, com Fabrício Boliveira, Jose Dumont, Samira Carvalho e Wesley Guimarães, no elenco, e roteiro de Marçal Aquino e Fernando Bonassi.

Também autor de Talco de vidro e Hinário nacional, começou profissionalmente ainda adolescente, ilustrando quadrinhos na extinta Bloch Editores. Colaborou com as revistas General, Metal Pesado, Nervos de Aço e Heavy Metal, entre outras. Estreou como autor de graphic novels em 1999, com a publicação de A Fealdade de Fabiano Gorila, inspirada na vida de seu pai, um ex-jogador de futebol.
Todos os Santos faz um resumo da obra do artista, reunindo ilustrações e historias em quadrinhos do inicio de sua carreira aos dias atuais. A obra recupera alguns dos primeiros trabalhos publicados pelo autor nas revistas de terror e artes marciais dos anos 1980 e trechos de suas primeiras investidas como ilustrador profissional, como os quadrinhos Os dragões de Bali, A ciência única, Catacumbas de lava e Bast, o olhar maligno da múmia.
O livro conta com raridades como a cultuada vencedora do premio da primeira Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro de 1991, Acordados!! Acordados!! – que nunca havia sido publicada. Traz ainda textos de Aldir Blanc e Marcio Paixão Nunes e uma entrevista com pesquisador e critico inglês Paul Grevett.
Também participam do encontro, Marçal Aquino e Fernando Bonassi, roteiristas do filme que chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 21 de junho.


Serviço:
Lançamento de Todos os Santos e bate-papo sobre roteiro
Com: Marcello Quintanilha, Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Heitor Dhalia
Sábado (19 de maio, 15h)
Local:
Editora Veneta –rua Araujo, 124 – 1º. Andar – Republica


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Coleção Hitchcock e O Realismo Impossível de Bazin



Inspirações de Hitchcock e considerações de André Bazin
Por César Alves

Os fãs da sétima arte têm dois bons novos motivos para passear pelas livrarias: A Coleção Hitchcock e O Realismo Impossível.
A saborosa Coleção Hitchcock estréia com dois títulos de tirar o fôlego: Vertigo – Um corpo que cai, da parceria de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, e A Dama Oculta, escrito por Ethel Lina White e publicado como The Wheel Spins em 1936. Ambos inéditos no Brasil.
Como o próprio nome já diz, trata-se de uma série dedicada a publicar romances que originaram filmes inesquecíveis sob a condução do mestre do suspense. Por outro lado, não só cinéfilos e cultores da obra de Alfred Hitchcock encontram motivos para celebrar os lançamentos que também devem levar ao deleite os admiradores da ficção noir e literatura de mistério e assassinato. A coleção surge com o objetivo de trazer ao Brasil obras de autores europeus – nomes que são referência na literatura policial de qualidade mundial –, dedicados aos gêneros Thriller, Scandi crime e suspenses históricos.
O Realismo Impossível reúne textos de André Bazin até agora inéditos no Brasil. Os textos aqui reunidos foram compilados por seu discípulo e amigo pessoal, François Truffaut. A primeira parte traz artigos retirados de seu livro Jean Renoir, considerado por Truffaut “o melhor livro de cinema, escrito pelo melhor crítico sobre o melhor diretor”. Já a segunda parte compila textos retirados da coletânea Le Cinéma de l´occupation ET de La résistance, onde o crítico explora o realismo no cinema possível e impossível.

Fundador da revista Cahiers Du Cinéma e colaborador do Le Parisién Liberé, France Observateur, L´Écran Français, Esprit e Les Temps Modernes, entre outros, a visão revolucionária de André Bazin sobre a sétima arte como “arte do encontro do real” representa uma das mais importantes colaborações ao pensamento cinematográfico e a forma de ver, compreender e escrever sobre filmes.

Serviço:
Coleção Hitchcock:
Vertigo – Um Corpo que cai
Autores: Pierre Bouileau e Thomas Narcejac
Tradução: Fernando Scheibe
192 páginas

A Dama Oculta
Autor: Ethel Lina White
Tradução: Rogério Bettoni
272 páginas
Editora: Vestígio

O Realismo Impossível
Autor: André Bazin
Organização e Tradução: Mário Alves Coutinho
224 páginas

Editora: Autêntica

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Cinefilia na Alcova - Cinema Explícito




Cinefilia na Alcova

A representação cinematográfica do sexo através da história é tema de Cinema Explícito, livro de Rodrigo Gerace.
Por César Alves

Representado de forma sugerida, simulada ou explícita, o sexo divide a mesma alcova com o cinema, em cumplicidade lasciva, desde o surgimento do cinematógrafo. Ainda assim, poucos são os estudos sérios e aprofundados sobre o sexo no cinema a ir além das preliminares. Talvez, devido ao elevado nível de tabu e controvérsia que – surpreendentemente, em pleno século 21 – ainda gira em torno do tema, são poucos os estudiosos que ousam passar do flerte ou, diante do assunto, antecipar a broxada.
Não é o caso de Rodrigo Gerace, autor de Cinema Explícito – As Representações Cinematográficas do Sexo, lançado recentemente pela Editora Perspectiva em parceria com as Edições Sesc. Resultado de sua tese de doutorado, a obra faz justiça ao que se propõe, promovendo um mergulho aprofundado na maneira como o ato sexual vem sendo mostrado no cinema, do nascimento do gênero até os nossos dias.

Sociólogo e Crítico de Cinema, Gerace se viu seduzido pelo tema a partir de sua paixão pela sétima arte e, depois de assistir à exibição de Os Idiotas (1997), de Lars Von Trier, suas interrogações sobre o erótico e o pornográfico, o implícito e o explícito e o que faz uma película cinematográfica ser considerada obscena. A partir daí o autor empreendeu uma extensa pesquisa que incluiu assistir a cerca de mil filmes e uma jornada pela Europa em busca de museus e acervos de colecionadores particulares.
O autor parte dos primeiros filmes com temática “erótica”, ainda na fase inicial da sétima arte. Eram filmes como Sandow: Strong Man (1894) de Thomas Edson, que, de tão inocentes para os padrões de hoje em dia, dificilmente dá pra acreditar na polêmica que causaram. O Beijo (1896), dirigido por William Heise e também produzido por Edson, por exemplo, apresentava apenas um pequeno “selinho” entre dois atores que, na época, encenavam uma peça na Broadway. Por mais ingênua que a cena parece hoje em dia, uma vez deslocada do palco e apresentada em close-up, foi vista como tão obscena que um crítico de Chicago chegou a apelar para a polícia pela intervenção de sua divulgação, devido ao risco que a fita representava à moral e aos bons costumes.

Mas é bom lembrar que tratar como caso de polícia as manifestações da sensualidade na arte, já naquela época, não era bem uma novidade. Já em 1873 o congresso norte-americano aprovou o Ato de Supressão do Comércio e Circulação de Literatura Obscena e Artigos Imorais, que criminalizava a distribuição através dos correios de obras literárias, artigos censurados e qualquer material impresso cujo conteúdo fosse considerado contrário aos padrões morais da época. O conjunto de leis foi proposto pelo congressista, chefe dos correios e arauto da luta pela moralidade e controle da vida sexual alheia, Anthony Comstock. A Lei Comstock, como ficou conhecida, promovia uma verdadeira caçada a textos proibidos, como traduções clandestinas de Sade, por exemplo, mas também barrava textos médicos e panfletos sobre métodos contraceptivos.
Quem leu o brilhante livro reportagem de Gay Talese, A Mulher do Próximo – e, para quem não leu, fica aqui a dica –, deve se lembrar que a lei teve papel importante na repressão à livros como O Amante de Lady Chatterly, de D.H. Lawrence, e foi fundamental para barrar a publicação nos Estados Unidos de autores como James Joyce, por exemplo. A lei serviu também para impedir a difusão, através do correios, dos controversos Stag films, (aqui também analisados), que eram curtas de conteúdo erótico, produzidos na época do cinema mudo, como o argentino El Satario (1907), de autor desconhecido, e A Free Ride (1915), de A Wise Guy.  Mas viria de um ex-colaborador e pupilo de Anthony Comstock, o líder do Partido Republicano, William H. Hays, a verdadeira repressão ao sexo no cinema.

Aprovado em 1921 e em vigência até meados do século XX, o Código Hays impunha uma série de regras e condutas a serem seguidas pelos produtores de cinema, para que os filmes fossem exibidos, da sugestão de que um casal nunca poderia aparecer indo dormir no mesmo quarto, com exceção de quando eram casados e, mesmo assim, não na mesma cama, mas em camas separadas, até a duração de um beijo que, dos quatro segundos, na época da primeira publicação da lei, chegou a ser reduzido para um segundo e meio, a partir de 1930.
De O Cão Andaluz a Garganta Profunda
Mas Gerace não se limita a analisar o aparelho repressor do “empata foda jurídico” Estatal contra o sexo no cinema e, se o assunto são as representações do sensual e do erótico na grande tela, o autor promove um verdadeiro compêndio do que até aqui foi feito, tanto no cinema comercial das grandes salas, quanto no circuito independente Cult e underground, passando pela indústria pornô. É o caso de Garganta Profunda (1972), de Gerard Damiano, estrelado por Linda Lovelace, que causou polêmica no meio acadêmico e dividiu o movimento feminista entre aquelas que enxergavam no filme uma propaganda machista e falocêntrica, enquanto outras o viam como libertador e um marco contracultural do movimento pela liberdade e igualdade sexual. Reflexo disso ou não, Garganta Profunda ganhou admiração de gente como Truman Capote e, dos 25 mil dólares gastos para realizá-lo, acabou faturando 600 milhões de dólares em todo o mundo, consolidando o potencial financeiro da indústria cinematográfica do cinema adulto.

De O Cão Andaluz, de Dali e Buñuel, aos experimentos de Andy Warhol; de O Diabo em Miss Jones a Ninfomaníaca, de Lars VonTrier, passando por Pasolini, John Waters, o cinema gay e o movimento New Queer, mais que um registro histórico, o autor pautou-se pela analise sociológica e acadêmica e teve como referência não só os filmes e os registros publicados sobre eles, mas também a obra de grandes autores que também debruçaram-se sobre o tema, como Susan Sontag e, principalmente, Michel Foucault.
Mas não pense o leitor que Gerace limitou sua pesquisa às manifestações do sexo no cinema internacional, o Brasil não ficou de fora, com direito a um capitulo especial sobre a produção marginal da Boca do Lixo paulistana e a Pornochanchada.
Ricamente ilustrada, a obra nos oferece um deleite quase orgástico, graças ao excelente trabalho de pesquisa, a escrita nada cansativa e produção visual, com reproduções de cartazes pouco vistos e cenas antológicas dos filmes citados.
Rodrigo promete um livro sobre Lars Von Trier para os próximos meses. Então, ainda falaremos muito dele por aqui.

Serviço:
Título: Cinema Explícito
Autor: Rodrigo Gerace
Lançamento: Editora Perspectiva e Edições Sesc
320 páginas



domingo, 27 de setembro de 2015

Peças Faladas - Peter Handke



A Palavra Encenada de Peter Handke

Chega às livrarias Peças Faladas, contendo quatro peças do autor austríaco até agora inéditas no Brasil.
Por César Alves

No alvorecer do que seriam os conturbados anos de 1960, um jovem e desconhecido cineasta alemão sentiu-se provocado ao assistir a montagem (se é que a palavra faz sentido em se tratando do texto em questão) de uma peça escrita por um dramaturgo austríaco, também ainda pouco conhecido.
O espetáculo, que rompia com tudo o que tradicionalmente entendemos por peça teatral, indo muito além do despojamento cênico e dramatúrgico, o atingiu profundamente, ao ponto de, logo após a experiência, o cineasta sair a procura de quem o havia escrito, o que acabou dando início a uma longa e produtiva parceria.
O Jovem cineasta se chamava Wim Wenders.
A peça, Autoacusação.
Seu autor, Peter Handke.
Autoacusação é um dos quatro textos de Handke traduzidos por Samir Signeu e reunidos na antologia Peças Faladas, que a editora Perspectiva acaba de publicar, em edição bilíngüe (Alemão-Português), para o deleite dos leitores brasileiros.
Focado na produção dramatúrgica de Handke em que o autor subvertia o ato da escrita teatral, abrindo mão de todos os recursos cênicos tradicionais, limitando ao uso da palavra, além do texto que aproximou o autor de Wim Wenders, completam o livro as peças Predição, Insulto ao Público e Gritos de Socorro. Todas, até então, inéditas por aqui.
Os textos que compõem este Peças Faladas causaram polêmica, como é do feitio de seu autor, desde as primeiras montagens, devido ao estranhamento que causavam no público e não é difícil entender o motivo. Provocador de carteirinha, ao criar suas peças faladas, Handke tinha como intenção eliminar todos os recursos de palco que, para ele, davam às montagens teatrais e à experiência cênica, uma condição sensorial ilusória. Suas peças, então, teriam como único instrumento criativo e condução cênica a palavra falada.
Aqui não há encenação de um drama, tragédia ou comédia; não há personagens, uma história sendo contada ou qualquer coisa parecida; é o próprio texto que protagoniza, desenvolve e provoca a ação dramática e experiência cênica. Como nos é informado em Insulto ao Público: “Vocês não verão nenhum espetáculo. Suas curiosidades não serão satisfeitas. Vocês não verão nenhuma peça”.
Tal proposta é levada ao extremo em Gritos de Socorro, onde toda a ação é composta de recortes que parecem extraídos de campanhas publicitárias, slogans, manchetes de jornais e revistas, com o único intuito de impedir que o público se divirta.
Poeta, romancista, contista, dramaturgo e cineasta, Peter Handke possui uma série de títulos publicados no Brasil, desde meados dos anos 1970. Apesar disso, o autor é mais citado como colaborador de Wim Wenders do que lido entre os brasileiros.
Fruto da relação entre uma austríaca e um soldado nazista, durante os anos de ocupação alemã da Áustria, só depois de adulto o autor foi conhecer seu pai biológico. Ainda criança se mudou com a mãe para Berlim, passando a infância e adolescência, entre os escombros de edifícios e casas, em um país dividido e arrasado pela guerra, pela culpa e pelos crimes megalomaníacos de Hitler e seus asseclas.
Handke obteve reconhecimento cedo, aos 22 anos de idade, com a publicação de seu primeiro romance Die Hornissen, em 1966, mesmo ano em que passa a fazer parte do Gruppe 47, coletivo de autores dedicado ao debate da educação, literatura e democracia na Alemanha do pós-guerra, do qual fizeram parte também Paul Celan, Hans Magnus Hezensberg, Gunter Grass e Heinrich Boll.
Autor de diversas obras importantes, entre elas O Medo do Goleiro Diante do Penalt e Kaspar, adaptado para a tela grande em uma de suas várias parcerias com Wenders, também dirigiu seus próprios filmes, passeando com desenvoltura pelas mais varias linguagens, da poesia à prosa, do teatro ao cinema e etc.


Serviço:
Título: Peças Faladas
Autor: Peter Handke
Tradução: Samir Signeu
Editora: Perspectiva
240 páginas


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Duna de Alejandro Jodorowsky



Duna: entre o épico de Frank Herbert e o maior filme de ficção-científica jamais realizado

De volta às livrarias brasileiras, em novas edições da Aleph, Duna não só se tornou uma das maiores séries ficcional-científicas, como  também se tornou obsessão para Alejandro Jodorowsky.
Por César Alves

Um elenco de peso que incluía Orson Welles, Salvador Dalí e Mick Jagger, entre outros; trilha sonora composta exclusivamente para a película pelo Pink Floyd; uma super produção de ficção-científica, sob a direção de Alejandro Jodorowsky. Sugiro ao amigo leitor (a) que imagine como seria tal obra, pois imaginá-la é tudo o que se pode fazer, tendo em vista que se trata de uma das mais influentes e cultuadas obras cinematográficas, jamais realizadas: Duna de Jodorowsky!
Considerada um marco na produção literária de ficção-científica moderna, Duna, que inaugura a série épica, escrita por Frank Herbert, foi publicado originalmente em 1965 e ainda hoje ostenta o título de obra de ficção-científica mais vendida em todo o mundo.
Vencedor do Prêmio Hugo de 1966 – primeiro dos muitos que colecionaria durante sua trajetória –, Duna daria início a saga que viria a se tornar uma das mais longevas do gênero, sendo seguido por mais outros cinco títulos, que estão ganhando novas edições em português, através da editora Aleph – já estão disponíveis os livros que formam a primeira trilogia: Duna, Filhos de Duna e Messias de Duna.
Num futuro distante, muito depois do desaparecimento de nossa civilização da qual, embora praticamente esquecida, ainda sobrevivem, numa espécie de memória ancestral, conceitos e tradições religiosas e filosóficas, adaptadas ao novo ambiente, a história se desenrola durante a expansão de um Império Intergaláctico, dividido em feudos planetários controlado por Casas Nobres, sob a liderança da casta imperial da Casa Corrino.
O herói da trama, Paul Atreides, é filho do Duque Leto Atreides e herdeiro da Casa Atreides, tem seu destino mudado na ocasião da transferência de sua família para o planeta Arrakis, fornecedor e única fonte no universo do cobiçado Melange, especiaria cobiçada, espécie de alucinógeno ou droga capaz de proporcionar ao usuário poderes psíquicos e extra-sensoriais inimagináveis.
É na jornada de descobertas de Paul e outros personagens do universo expandido de Duna que Herbert parte para explorar a complexidade das relações políticas, religiosas e emocionais, passando pelo debate em torno da interação entre avanço tecnológico, exploração de meios naturais e seu impacto ecológico, muito pertinente na época de seu lançamento, o que explica o fato de a série ser ainda hoje apontada como uma das mais importantes e inovadoras obras de ficção e fantasia publicadas na segunda metade do século vinte.
Não é de se admirar que a série tenha se tornado uma das franquias literárias mais cultuadas da história e recebesse uma adaptação cinematográfica, o que aconteceu em 1984, sob a direção do não menos cultuado David Lynch. O filme de Lynch, no entanto, – pelo menos para este escriba – ficou muito aquém não só do original, como também da obra cinematográfica de seu diretor.
O que nem todo mundo sabe é que a aventura audiovisual de Duna não começa com Lynch, mas quase uma década antes, como uma obsessão quase religiosa de outro cultuado diretor, o chileno Alejandro Jodorowsky, rendendo uma obra que se tornou tão revolucionária quanto lendária, mesmo que nunca tenha sido concluída.

Duna de Jodorowsky



Na primeira metade dos anos 1970, o multimídia Alejandro Jodorowsky gozava de respeito quase devoto entre a nata intelectual e artística internacional. Entre seus admiradores e colaboradores estava o ex-beatle John Lennon, por exemplo.
Personalidade do primeiro time das vanguardas latino-americanas, passeando com desenvoltura nas mais diversas funções; entre elas as de ator, diretor, dramaturgo e poeta – também psicólogo ou “psicomago”, como prefere –, era como cineasta que seu nome ganhava mais atenção. Adepto dos experimentos estéticos do surrealismo, seus projetos cinematográficos sempre foram marcados por sua obsessão inquestionável de ter controle indiscutível sob cada detalhe da produção, escrevendo, dirigindo e atuando. Postura que tinha como princípio sua visão de cinema como algo além do entretenimento e mercado e sim como expressão artística máxima, mais de linguagem, uma experiência sensorial e religiosa.
Assim foram realizados filmes como Pando y Lis (1968), El Topo (1970) e A Montanha Mágica (1973) que, mesmo considerados de público restrito, relegados às sessões especiais, exibidos após a meia noite, ganharam reconhecimento da crítica e do público, que formavam filas para assisti-los, apesar do horário.
Reconhecendo tais qualidades e baseando-se no sucesso que seus filmes obtinham entre o público europeu, seus distribuidores franceses decidiram lhe oferecer carta branca e orçamento ilimitado para seu próximo projeto. Reza a lenda que, durante a reunião com seu produtor, Michel Seydoux, lhe foi perguntado o que ele gostaria de filmar. Olhando para a estante de livros, Jodorowsky teria apontada uma das obras e respondido:
“Duna!”
Ao que foi apoiado de imediato, tendo em vista o sucesso que o livro vinha obtendo nas livrarias e a quase certeza de se repetir na grande tela. O mais engraçado é que, segundo o próprio diretor, até ali, embora soubesse do que se tratava o livro de Frank Herbert, Jodorowsky não o havia lido, o que tratou de fazer no mesmo dia, já preparando seu roteiro.
Um castelo francês teria sido alugado para funcionar como sede da equipe de pré-produção e ao diretor foi dado total controle e liberdade para contratar quem bem entendesse. Alejandro abraçou o projeto como uma verdadeira missão religiosa, cruzada revolucionária em busca de corações e mentes que fariam daquela sua obra definitiva. Para a produção gráfica, criação de storyboards e figurinos, foram convocados os geniais H. R. Giger, Moebius e Chris Foss. Com o aval de seus produtores, Salvador Dalí foi contratado, mesmo tendo exigido receber como “o ator mais bem pago da história de Hollywood”; Orson Welles teria a sua disposição o chef de seu restaurante francês predileto, como cozinheiro particular, durante as filmagens; Mick Jagger colocou-se a disposição para atuar no filme, antes mesmo de ser solicitado, ao saber das intenções do diretor de incluí-lo na película, assim como David Carradine.

Jodorowsky chegou a dispensar o responsável pelos efeitos especiais de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, por achar que ele não abraçaria o projeto como um apóstolo devotado e sim como um investidor financeiro, preferindo o, até ali pouco conhecido, Dan O´Bannion dos filmes de John Carpenter, futuro criador da série Helloween.
Reunindo-se com os integrantes do Pink Floyd, nos estúdios Abbey Road, durante as gravações de The Dark Sido of the Moon, ficou acertado que a banda assumiria a composição da trilha sonora.
Com tudo isso, não há duvidas de que estava pronta a estrutura que faria do Duna de Jodorowsky um clássico e chega a ser inacreditável nunca ter sido concluído.
O projeto caminhava bem até esbarrar na burocracia e visão mercantilista do braço norte-americano da produção. Para apresentá-lo aos grandes estúdios de Hollywood, um storyboard, com descrições técnicas, movimentos de câmeras, cenas desenhadas por Moebius e tudo o mais, foi criado e passou pelas mãos de cada um dos manda-chuvas da indústria, recebendo elogios, mas pouca disposição para arriscar em uma obra tão ousada. Além do mais, Jodorowsky não abria mão de concluir e exibir seu filme exatamente como o concebera, recusando-se a aceitar as mudanças sugeridas pelos magnatas da indústria e, muito menos, editá-la – o filme teria cerca de doze horas de duração!
O projeto acabou engavetado, mas sua influencia sobre tudo o que foi feito depois, ainda hoje, é visível. O storyboard, concebido por Jodorowsky e Moebius, acabou circulando como um guia nas mãos de diretores e produtores da indústria, sendo suas indicações de enquadramento, movimento de câmera, estética gráfica e, inclusive, cenas inteiras, aproveitadas em obras como Star Wars, Alien, Blade Runner, Prometheus e diversas outras grandes e médias produções de Sci-Fi até hoje.

A saga de Alejandro Jodorowsky e seu Duna, aliás, foi alvo de um ótimo documentário, Jodorowsky´s Dune (2013), dirigido por Frank Pavich.



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A Jornada do Escritor - Christopher Vogler (Livro)




A Jornada Heroica do Autor

Depois de anos fora de catálogo, A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler, volta às livrarias brasileiras em nova edição da editora Aleph.
Por César Alves

Em conversas com amigos já disse mais de uma vez que a única regra válida para a escrita criativa é a de regras existem para ser quebradas. Não se aprende a ser criativo; não se ensina a ser escritor, o artista forma-se e, formando-se, desenvolve, inventa e reinventa suas próprias formas e linguagens.
Mas isso não significa que a arte de contar histórias não possui suas próprias formas inevitáveis e que o bom contador de histórias deve ignorá-las. Conhecê-las bem, aliás, mesmo que para subvertê-las, como é do feitio de escritores realmente bons, é quase uma obrigação. Como defende Christopher Vogler forma não significa fórmula e é às formas que compõe uma grande história a que se dedica em seu A Jornada do Escritor, que após anos longe de nossas prateleiras ganha nova edição em português pela editora Aleph.
Desde que o herói Gilgamesh empreendeu sua epopéia no poema épico da Mesopotâmia, registrados em escrita cuneiforme em placas no século sétimo antes de Cristo, até a última aventura de Batman ganhar as telas dos cinemas e faturar milhões em bilheteria; passando pelo bravo Odisseu e sua argúcia para vencer as armadilhas de Posseidom em sua jornada de volta a Ítaca, depois de vencer praticamente sozinho a guerra contra os troianos, com a brilhante estratégia do cavalo de madeira, certas características na narrativa de uma aventura continuam as mesmas.
Tais características e passagens, denominadas A Jornada do Herói, foram tema recorrente na obra de Joseph Campbell, especialista em mitologia e religião comparada norte-americano. Em sua obra O Herói de Mil Faces, Campbell disseca passagens recorrentes na trajetória heróica dos mitos ancestrais, tanto na mitologia clássica, quanto na bíblica e cristã, de Homéro a Shakespeare, tais como O Chamado à Aventura e A Descida aos Infernos, por exemplo. Foi justamente inspirado em O Herói de Mil Faces, de Campbell, que Vogler desenvolveu seu A Jornada do Escritor.
O livro apropria-se dos tópicos abordado pelo genial mitólogo norte-americano em seus estudos obrigatório, usando uma linguagem atual e acessível, fazendo uso não só dos exemplos mitológicos clássicos de Campbell como também de obras contemporâneas como a trilogia Star Wars, de George Lucas, entre outras, por exemplo.
Além de Campbell, Vogler baseou-se nos estudos de Carl G. Jung sobre arquétipos e Inconsciente Coletivo para estruturar seu livro que é considerado uma das obras mais importantes sobre estrutura literária hoje, utilizada como guia por escritores de roteiros cinematográficos, peças de teatro e literatura.
Longe de ter a intenção de estabelecer fórmulas – o próprio autor sugere aos seus leitores que as desconstrua, afinal, a simples leitura do livro não faz de ninguém um escritor –, a obra oferece uma série de dicas e observações importantes para se compreender o processo de construção de uma narrativa, como amarrar bem uma história e, através de uma leitura atenta, ajudar na formação de escritores como escrever com maestria.
Consultor de grandes estúdios, o autor colaborou com filmes de grande sucesso como O Rei Leão, Clube da Luta e Cisne Negro, entre outros. Leitura indicada tanto para estudantes e profissionais das mais diversas áreas da escrita criativa, quanto para leigos.

Serviço:
Título: A Jornada do Escritor
Autor: Christopher Vogler
Editora: Aleph
488 páginas





segunda-feira, 11 de maio de 2015

Cenas de Uma Revolução - O Nascimento da Nova Hollywood



Roteiros de transição

Livro reportagem de Mark Harris registra a ruptura geracional do cinema norte-americano nos anos sessenta.
Por César Alves


A trajetória de um casal de foras da lei texano, famoso durante a depressão, inspirou dois jovens funcionários da revista Esquire a iniciar o roteiro de um dos filmes que devolveriam ao cinema norte-americano sua criatividade perdida.
Fãs de Alfred Hitchcock e da Novelle Vague francesa, David Newman e Robert Benton sonhavam ver o texto dirigido por seu ídolo, François Truffaut. Não sob a régia do diretor francês, mas de Arthur Penn, o resultado foi muito além do que a dupla esperava.
O filme, estrelado por Warren Beatty e Faye Dunaway, entrou para a história como um dos que ajudaram a reinventar a indústria de Hollywood, pavimentando caminho para uma geração de realizadores que daria início a uma de suas fases mais criativas.
Ao lado de A primeira noite de um Homem, Adivinhe Quem Vem Para Jantar, No Calor da Noite e O Fantástico Dr. Doolitle, todos lançados em 1967 e indicados ao Oscar no ano seguinte, Bonnie And Clyde representa um dos cinco recortes cinematográficos da psique norte-americana nos anos sessenta. É o que defende o escritor e jornalista Mark Harris no excelente livro reportagem Cenas de Uma Revolução, publicado no Brasil pela L&PM Editores.
No alvorecer da década de 1960, a indústria cinematográfica hollywoodiana passava por uma de suas piores crises. Se os roteiristas sofriam diante da página em branco, o mesmo não poderia ser dito dos jornalistas. As redações estavam em fase brilhante, graças a um estilo em ascensão que adicionava elementos da literatura às técnicas de reportagem. O jornalismo literário ou Novo Jornalismo não era exatamente uma novidade. O estilo, no entanto, estava em glória e a Esquire era praticamente sua residência oficial. Tendo como colaboradores alguns dos mais notórios expoentes do gênero, era em suas páginas que Norman Mailer, Tom Wolfe, Gay Talese e outros encontravam liberdade para exercer seu talento em artigos que traziam de sobra todo o ritmo e criatividade que faltavam aos filmes.

Foi do ambiente de trabalho que Benton e Newman se alimentaram para dar início a seu projeto. O texto embrionário de Bonnie And Clyde foi quase todo escrito durante o expediente entre as paredes da redação da Esquire. A dupla tirava proveito de tal liberdade justificando suas escapadelas como “saídas para pesquisa” que na verdade eram usadas para sessões de Hitchcock e cinema europeu ou para visitar sebos em busca de livros sobre gangsteres, literatura policial pulp e artigos em jornais e revistas sobre o bando dos irmãos Barrow. Ai se encontra um dos principais atrativos da reportagem de Mark Harris. O livro faz um relato pormenorizado de cada um dos filmes, desde as idéias originárias para concepção das obras até sua materialização em película, apropriando-se de elementos da cultura pop para fazer um retrato histórico-social do período.
Da publicação de Misses Robinson, romance de Charles Webb propagandeado como novo O Apanhador no Campo de Centeio e fracassado nas livrarias, até sua reinvenção fílmica com A Primeira Noite de um Homem, dirigido por Mike Nichols que traz o jovem Dustin Hoffman na atuação que o levou ao estrelato, Harris destrincha o meio cinematográfico e o star system no contexto das profundas mudanças e conflitos sociais que marcam a época.
Aqui nos é apresentado um Sidney Poitier insatisfeito com os papéis edificantes que lhe eram oferecidos, mais para dar um verniz progressista ao conservadorismo da indústria do que para valorizar seu talento. Inteligente, sobre sua conquista do Oscar em 1964, pela atuação em Uma Voz nas Sombras – inédita premiação a um ator negro, celebrada na mídia como sinal de mudanças –, ele declara: “Eu ainda era o único ali”. Tentando se equilibrar entre o astro e o ativista pelos direitos civis em luta por maior participação de afro-americanos nos filmes, Poitier sabia que, como um dos únicos astros de sua raça – o outro era Harry Belafonte –, naquele contexto, não poderia aceitar papéis que o apresentassem de forma negativa. Porém, sabia ser capaz de atuar como Rei Lear, por exemplo, como qualquer ator branco. Foi no protagonista de No Calor da Noite que finalmente encontrou um personagem que não se baseava em clichês raciais.
Harris revela curiosidades interessantes sobre os filmes. Bonnie and Clyde, por exemplo, passou de mão em mão até chegar a Warren Beatty que estreava como produtor e não pretendia atuar. Para ele, o papel de Clyde Barrow deveria ser feito por Bob Dylan. François Truffaut chegou a vê-lo como ideal para sua estréia na direção de um filme norte-americano, depois entregou o roteiro à Godard. A passagem entusiasmada, porém breve, de Jean-Luc oferece um dos momentos mais divertidos do livro. Ele pretendia rodar tudo em Nova Jersey no mês de janeiro. Na primeira reunião com os produtores, teria sido informado que o clima não favorecia as filmagens na data planejada. Reforçando sua fama de difícil, o diretor teria respondido: “Eu estou falando de cinema e você, de meteorologia!” Abandonando a reunião em seguida para nunca mais tocar no assunto.
Colunista da Entertainment Weekly, o estilo de Mark Harris lembra o de mestres do jornalismo literário como Gay Talese. Ele sabe explorar fatos que, para muitos pesquisadores, poderiam parecer banais.
Na passagem sobre uma festa oferecida pelo casal Jane Fonda e Roger Vadim, por exemplo, o escritor enxerga um evento carregado de simbolismo. Numa das primeiras e raras vezes em que a antiga e a nova Hollywood estiveram sob o mesmo teto, os expoentes da velha guarda teriam se incomodado com o folk eletrificado emitido pelos amplificadores da banda The Byrds no palco montado exclusivamente para a apresentação. Irritado, o patriarca dos Fonda, Henry, teria gritado ao filho, Peter: “Dá para pedir para eles baixarem o volume?”
A festa, que ainda teria Peter Fonda subindo no telhado da casa para gritar: “Deus abençoe a maconha!”, é representativa do momento de ruptura. Nos anos que se seguiram, a geração de Henry e outros convidados, como Gene Kelly, William Wyler e Lauren Bacall, seria destronada pelos ilustres desconhecidos ali presentes, a maioria oriunda das produções B de Roger Corman. Gente como Dennis Hopper, Jack Nicholson e o próprio Peter Fonda.
A nova Hollywood começava a tomar forma embalada pelas guitarras elétricas dos Byrds. A invasão bárbara seria concluída com a chegada de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Brian De Palma, George Lucas, Steven Spielberg e outros.
Mas ai já é outra história, ficando aqui a dica de Easy Riders, Ranging Bulls – no Brasil, Como a Geração Sexo, Drogas & Rock´n´Roll Salvou Hollywood (Intrinseca Editora) –, de Peter Biskind, como sequencia perfeita após a leitura do ótimo lançamento da L&PM.



Serviço:

Título: Cenas de Uma Revolução – O Nascimento da Nova Hollywood
Autor: Mark Harris
Editora: L&PM Editores
488 páginas