terça-feira, 2 de junho de 2015

Linhas de baixo, riffs de palavras e livros de musica - Livros


Linhas de baixo, riffs de palavras e livros de musica

Das memórias de Peter Hook sobre os dias do Joy Division, passando pelo The Cure, ao nascimento da New Wave brasileira, na biografia de um de seus artífices, Kid Vinil, as historias do pós-punk invadem nossas livrarias com o lançamento de ótimos títulos.
Por César Alves

Desde criança, sempre gostei de musica e sempre gostei de histórias, ficcionais ou não e independente da forma como eram contadas. Sendo assim, logo que comecei a ter algum dinheiro, através de bicos e, principalmente, quando passei a ter um salário – miserável, diga-se de passagem –, como Office-boy, por volta dos 14 anos, não é de se estranhar que boa parte de meus gastos pessoais tenham sido na aquisição de discos e livros.
A conversa fiada autobiográfica não é de toda sem sentido. Serve para ilustrar o motivo da empolgação do amigo que vos escreve em relação ao verdadeiro tema deste texto: os mais do que bem vindos livros Unknown Plesures – Joy Division, de Peter Hook, Nunca é o Bastante – A História do The Cure, de Jeff Apter, e Kid Vinil – Um Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani, das editoras Seoman e Edições Ideal – a segunda, responsável pela biografia de Ian Curtis, também citada aqui.

Sobre jovens e o peso em seus ombros

Poucas bandas na história do rock podem ser comparadas ao Velvet Underground no que diz respeito ao culto e o impacto de sua influência sobre as gerações que as seguiram. Dentre elas se inscreve o Joy Division.
Formado em Manchester por quatro garotos da classe operária sob o nome Warsaw – referência a canção Warszawa, faixa do cultuado álbum Low, da não menos cultuada trilogia de Berlim de David Bowie e Brian Eno –, o Joy Division possui tudo o que é preciso para justificar o culto em torno de sua historia: uma produção tão curta quanto impactante, formada por dois álbuns que se tornaram clássicos, Unknown Plesures (1979) e Closer (1980); originalidade musical e lírica marcantes, atitude e, principalmente, uma biografia marcada pela tragédia.
Eram os dias caóticos e sombrios da segunda metade da década de 70 e, influenciados pela fúria sonora verborrágica do punk rock, os amigos de escola Bernard Summer e Peter Hook, respectivamente guitarra e baixo, se uniram ao baterista Stephen Morris e ao cantor e letrista Ian Curtis para dar início à sua própria banda. É justamente na figura de Curtis que se apóia o dado trágico citado no parágrafo anterior.
Suas letras intensas e carregadas de poética e urgência niilista, associadas à sonoridade sombria e clima tenso, marcado, principalmente, pela produção e Martin Hannett, foram essenciais para criar a aura glacial comumente associada à banda. Seu suicídio, pouco antes de sua banda embarcar para uma turnê pelos Estados Unidos, o que poderia dar início a uma promissora carreira internacional, foi mais do que suficiente para completar o mito – não totalmente desprovido de verdade – do gênio atormentado e deprimido que antecipa o outono de sua existência no auge de sua primavera criativa e torná-lo, junto com sua banda, alvo de inúmeros livros e reportagens – algumas boas, outras nem tanto –, explorando tal imagem.
É justamente por confirmar e, ao mesmo tempo, desmitificar tais características – que vieram se tornar verdadeiros clichês, quando se fala de Ian Curtis e do Joy Division –, mas, principalmente, por lançar novos pontos de vista sobre sua trajetória que as duas obras disponíveis agora nas livrarias brasileiras são especiais.
Lançado recentemente pela editora Seoman, o primeiro, Unknown Pleasures – Joy Division, escrito pelo baixista da banda e, mais tarde, junto com os outros sobreviventes, fundador do New Order, Peter Hook, o livro oferece uma visão interna sobre a história, do ponto de vista de quem participou dela desde o início.
Na condução das quatro cordas de seu contrabaixo, passando por palcos de inferninhos, estúdios de gravação e bastidores de shows, Hook protagonizou e ajudou a construir a historia que narra, de forma honesta e leitura agradável, de seu ponto de vista privilegiado. Embora, humildemente, o baixista não se considere o dono da verdade, como diz em vários momentos, sua versão dos fatos é um relato detalhado e apaixonado daqueles dias de quem esteve e consegue colocar o leitor no olho do furacão que foi a trajetória de sua banda. É como um garoto em uma banda que Hook conta sua história sobre quatro amigos conquistando seu espaço no explosivo nos subterrâneos do rock europeu, com descrições detalhadas de cada uma das apresentações, momentos engraçados e até escatológicos, uso abusivo de álcool e drogas, mas principalmente amizade.
Tocando à Distância, de Deborah Curtis, apresenta uma visão mais íntima e pessoal, focada na persona de Ian Curtis, com quem a autora foi casada e teve uma filha. Publicado no Brasil ano passado, o livro é considerado item essencial para compreender seu biografado na intimidade. Narrativa intensa e comovente, contém imagens da vida familiar de Ian Curtis, além de lançar luz sobre os motivos que o levaram a cometer o ato final que marca sua trajetória – um coração dividido entre as glórias e os excessos de um rock star e o pai de família, entre o amor pela esposa e a amante e, para piorar, a saúde comprometida pela epilepsia. O livro foi a base para a cinebiografia, Control, de Anton Corbjin,e traz prefácios de Jon Savage e Kid Vinil. A publicação é da Edições Ideal.

Jumping Someone Else´s Train

Pela mesma editora, acaba de sair também Nunca é o Bastante – A História do The Cure.
A historia do Cure é como a de diversas bandas ao redor do mundo. Começa com garotos inventando formas para vencer o tédio na cidade de Crawley, Sussex, Inglaterra, até alcançar o estrelato como uma das principais bandas do pop britânico da década de 80.
Falar sobre o The Cure é falar sobre Robert Smith, líder e único integrante permanente em todas as diversas formações que a banda teve até os dias de hoje. Apaixonado por rock desde que, ainda na infância, teve contato com os discos dos Beatles e viu uma apresentação de Jimi Hendrix pela tevê, foi através de David Bowie que Smith aprendeu a importância da imagem para a construção estética de um artista. Lição que seguiria à risca desde o início da banda que formaria com os amigos, sob a inspiração do Punk e do pós-punk em meados dos anos 70.
Também autor de uma biografia sobre os Red Hot Chilli Peppers, o australiano Jeff Apter fez uma série de entrevistas com os integrantes do Cure e seu líder para construir um relato detalhado de sua história em suas diversas fases, disco a disco, turnê a turnê, incluindo suas passagens pelo Brasil, resultando numa obra, no mínimo, indispensável, para fãs ou não.

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O Herói do Brasil

“Na hora do almoço a minha fome é de leão. Abro a marmita e o que vejo, feijão. Chega o fim do mês, com toda aquele euforia. Todos ganham bem e eu aquela micharia”. Nos anos de minha primeira infância, assim como todos os garotos da época, sabia cantar de cor a letra desse sucesso das rádios e programas de auditório, mas só alguns anos depois, quando comecei a trabalhar – e aqui está o link com o parágrafo que abre este texto, é que fui entender de verdade do que falava a musica interpretada por Kid Vinil, à frente de seu Magazine.
Não só como cantor do Magazine, mas também como líder dos Heróis do Brasil, Antonio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, fez sucesso da década de oitenta com outros sucessos, como Tic, Tic, Nervoso, mas seu papel na construção do rock brasileiro de sua geração e para as gerações vindouras vai muito além disso, como o leitor pode conferir na biografia autorizada Kid Vinil, O Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani.
De auxiliar de Departamento Pessoal a executivo da gravadora Continental, passando pelo início do punk brasileiro, como vocalista do Verminose, os sucessos nacionais citados acima e o processo hercúleo para trazer aos ouvintes e fãs de musica o que se passava no universo da musica pop internacional, tanto como radialista como apresentador de tevê, a vida de Kid Vinil, que se confunde com a do próprio pop brasileiro, é aqui narrada de forma leve e divertida, contando com depoimento do próprio biografado, familiares, parceiros e gente como Fabio Massari, Fernando Naporano e outros dos que o ajudaram a construir essa historia.

Serviço:

Livros:
Título: Unknown Pleasures – Joy Division
Autor: Peter Hook
Editora: Seoman
392 páginas

Título: Tocando a Distância
Autor: Deborah Curtis
Editora: Edições Ideal
328 páginas

Título: Nunca é o Bastante – A História do The Cure
Autor: Jeff Apter
Editora: Edições Ideal
336 páginas

Título: Kid Vinil – O Herói do Brasil
Autor: Ricardo Gozzi e Duca Belintani
Editora Edições Ideal

160 páginas