quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Coleção Hitchcock e O Realismo Impossível de Bazin



Inspirações de Hitchcock e considerações de André Bazin
Por César Alves

Os fãs da sétima arte têm dois bons novos motivos para passear pelas livrarias: A Coleção Hitchcock e O Realismo Impossível.
A saborosa Coleção Hitchcock estréia com dois títulos de tirar o fôlego: Vertigo – Um corpo que cai, da parceria de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, e A Dama Oculta, escrito por Ethel Lina White e publicado como The Wheel Spins em 1936. Ambos inéditos no Brasil.
Como o próprio nome já diz, trata-se de uma série dedicada a publicar romances que originaram filmes inesquecíveis sob a condução do mestre do suspense. Por outro lado, não só cinéfilos e cultores da obra de Alfred Hitchcock encontram motivos para celebrar os lançamentos que também devem levar ao deleite os admiradores da ficção noir e literatura de mistério e assassinato. A coleção surge com o objetivo de trazer ao Brasil obras de autores europeus – nomes que são referência na literatura policial de qualidade mundial –, dedicados aos gêneros Thriller, Scandi crime e suspenses históricos.
O Realismo Impossível reúne textos de André Bazin até agora inéditos no Brasil. Os textos aqui reunidos foram compilados por seu discípulo e amigo pessoal, François Truffaut. A primeira parte traz artigos retirados de seu livro Jean Renoir, considerado por Truffaut “o melhor livro de cinema, escrito pelo melhor crítico sobre o melhor diretor”. Já a segunda parte compila textos retirados da coletânea Le Cinéma de l´occupation ET de La résistance, onde o crítico explora o realismo no cinema possível e impossível.

Fundador da revista Cahiers Du Cinéma e colaborador do Le Parisién Liberé, France Observateur, L´Écran Français, Esprit e Les Temps Modernes, entre outros, a visão revolucionária de André Bazin sobre a sétima arte como “arte do encontro do real” representa uma das mais importantes colaborações ao pensamento cinematográfico e a forma de ver, compreender e escrever sobre filmes.

Serviço:
Coleção Hitchcock:
Vertigo – Um Corpo que cai
Autores: Pierre Bouileau e Thomas Narcejac
Tradução: Fernando Scheibe
192 páginas

A Dama Oculta
Autor: Ethel Lina White
Tradução: Rogério Bettoni
272 páginas
Editora: Vestígio

O Realismo Impossível
Autor: André Bazin
Organização e Tradução: Mário Alves Coutinho
224 páginas

Editora: Autêntica

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Editora Veneta relança biografia de Charles Bukowski




Notas sobre um velho safado

Editora Veneta relança biografia de Charles Bukowski, depois de anos fora de catálogo.
Por César Alves

Não é de todo errado afirmar que na obra de todo escritor, mesmo entre os menos realistas e mais adeptos da fantasia e do fantástico, há algo de autobiográfico. No caso de Charles Bukowski praticamente tudo, entre contos, romances e poemas, foi tirado a fórceps de suas experiências e tragédias pessoais, o que não é novidade para ninguém. O autor, no entanto, não se viu livre da criação de mitos e lendas sobre sua vida – alguns criados por ele mesmo – e concepção de seus livros. Logo, como disse o jornalista inglês, Howard Sounes, em uma entrevista recente, escrever uma biografia de Bukowski é, em parte, desvendar os pontos que separam o mito da realidade, o que buscou fazer em seu livro Bukowiski – Vida e Loucuras de um Velho Safado, que acaba de receber nova edição da editora Veneta.
Nascido em Andernach, na Alemanha, e radicado nos Estados Unidos, onde se tornou um dos cronistas mais cultuados do “outro lado” ou “lado selvagem” do american-way-of-life, povoado por vagabundos, bêbados, viciados, prostitutas e cafetões, a trajetória de Charles Bukowski e seu alter ego Henry Chinaski é aqui recriada com maestria por Sounes, que teve acesso às suas cartas pessoais, além de conversar com familiares, amigos e amantes, mostrando além do escritor bêbado, vagabundo, mulherengo e imprevisível que sua própria obra e o posto de ícone da cultura pop costumam propagandear.
A nova versão do livro conta ainda com a maravilhosa capa criada por Robert Crumb e cedida exclusivamente para a edição brasileira.

Serviço:
Bukowski – Vida e Loucuras de um Velho Safado
Autor: Howard Sounes
Editora: Veneta
384 páginas

(Revista Cenário – edição 27)


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Um Breve Perfil de Angela Davis



Um Breve Perfil de Angela Davis

Com um atraso de mais de trinta anos, a Boitempo Editorial lança no Brasil Mulheres, Raça e Classe da ativista norte-americana.
Por César Alves

Ativista e professora de filosofia na universidade de Santa Cruz, na Califórnia, Angela Davis nasceu no Alabama. Péssimo lugar para ser negro e mulher, na América segregacionista dos anos quarenta – terra da Ku Klux Klan, dos linchamentos quase rituais e das execuções por enforcamento, que lembravam strange fruits brotando nas árvores, como diz a canção.
Não é de se estranhar que, em meio a tal ambiente, a menina crescesse sob o signo da indignação e da revolta.
Já aos 12 anos participa do boicote a uma linha de ônibus que praticava segregação entre seus passageiros. Considerada brilhante por professores, dois anos depois, Davis ganha uma bolsa para estudar no liceu Little Red School House e muda-se para Nova York.
Conciliando seu ativismo político com a dedicação aos estudos, é aceita na Universidade de San Diego, na Califórnia, onde é presa pela primeira vez num protesto contra a guerra do Vietnã. Radicaliza-se e, ainda que discordante de algumas das posições de seus companheiros, Angela adere ao Black Panther Party de Bobby Sela e Huey P. Newton.
Suas ações junto à organização logo a colocaram no alvo do FBI de J. Edgar Hoover, empurrando-a para a clandestinidade. Durante meses saltou de esconderijo a esconderijo, até sua prisão no início da década de 1970, que deu origem a uma série de protestos e ao movimento, de repercussão mundial, Free Angela Davis, que pedia sua liberdade. Ganhou versos em sua homenagem do poeta Jacques Prevért, canções da dupla Jagger e Richards, Yoko Ono e outros artistas.
Fora da prisão, Angela Davis abandonou as armas, mas jamais a luta. Ainda hoje, aos 72 anos, Davis é sempre combativa, seja em nome dos direitos das mulheres, contra a intolerância e a crueldade para com os animais.

Inspiração para o documentário Free Angela and all polital prisioners (2012), Angela Davis escreveu diversos livros. Entre eles, Mulheres, raça e classe, que a Boitempo Editorial acaba de lançar por aqui.
Publicado em 1981, os 35 anos que separam a edição original em inglês da tradução, agora disponível para os leitores brasileiros, em nada afetam a contemporaneidade e a relevância da obra. O que pode ser um dado triste, significando que, no que toca à condição da mulher numa sociedade fálica, da negritude numa cultura segregacionista e da pobreza em meio ao capital selvagem e a ditadura do consumo, muito pouco ou praticamente nada evoluímos.
O lançamento vem na cola de Reivindicação dos Direitos da Mulher, da mãe de Mary Shelley e feminista avant la léttre Mary Wollstonecraft (mais: http://orebitedoverbo.blogspot.com.br/2014/07/familia-sagrada-william-goldwin-mary.html), que a mesma editora publicou por aqui recentemente.

Serviço:

Livros:
Mulheres, raça e classe
Autor: Angela Davis

Reivindicação dos Direitos da Mulher
Autor: Mary Wolstonecraft

Editora: Boitempo Editorial