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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Ziembinski, Aquele Bárbaro Sotaque Polonês



Ziembinski, Aquele Bárbaro Sotaque Polonês

Livro da pesquisadora polonesa, Aleksandra Pluta, conta a trajetória de um dos mais importantes encenadores do teatro moderno brasileiro.
Por César Alves


No limiar da década de 1940, circulava entre o meio teatral brasileiro notícias sobre “a chegada de um polonês fabuloso, que tinha todo um espetáculo dentro da cabeça antes que se fizesse o menor ensaio ou se batesse o primeiro prego do cenário”.
O mundo amargava os tormentos da segunda guerra mundial e, em meio às notícias trágicas e alarmantes que só um conflito de tais proporções pode gerar pelo menos aquela era uma boa notícia. O polonês era Zbigniew Ziembinski (1908-1978) e o espetáculo – que ensaiava e estrearia em 1943, tornando-se um marco na história do teatro moderno brasileiro – era Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues.
Publicado primeiro na Polônia em 2015, chega agora às livrarias brasileiras, Ziembinski, Aquele Bárbaro Sotaque Polonês, biografia assinada por Aleksandra Pluta e editada pela Perspectiva, com tradução de Luiz Henrique Budant.
Falar sobre a importância de Ziembinski para o teatro brasileiro e, principalmente, sobre o impacto que teve sua colaboração com a companhia Os Comediantes e Nelson Rodrigues na concepção de nossa modernidade cênica já foi feito tantas vezes que é quase impossível fugir do lugar comum. Ziembinski também construiu uma trajetória muito relevante nas telas, como ator de filmes e novelas – sucessos de audiência, como O Rebu (1975) da Rede Globo –, e, antes de chegar ao Brasil, possuía uma sólida carreira nos palcos de seu país de origem. É justamente ai que o livro de Pluta se destaca.
Ator e diretor, formado na Faculdade de Letras da Universidade Jagielonska e na Escola de Arte Dramática do Teatro Municipal de Cracóvia, Zigbniew Ziembinski atuou – como encenador e ator – em mais de 60 espetáculos das maiores companhias e com alguns dos maiores nomes do teatro polonês, além de ter sido professor no lendário Instituto de Arte Teatral de Varsóvia. Metade do livro é dedicada à importância do encenador para também para o teatro e a cultura de seu país de origem.
Aqui ficamos sabendo que Ziembinski chegou a dirigir um filme e a atuar em diversos outros produzidos na Polônia. Além de sua célebre atuação – muito elogiada pela imprensa na época – na montagem de Verão em Nohant, de Jaroslaw Koczanowicz, interpretando o pianista Frédéric Chopin, o livro também revela que “Zimba”, como era carinhosamente chamado pelos amigos da classe teatral brasileira, chegou a conhecer pessoalmente o diretor russo e influência para o teatro mundial do século vinte, Meyerhold (1874-1940) e descreve os bastidores da estréia mundial de Genebra, peça de Bernard Shaw que zombava dos ditadores fascistas, Hitler, Mussolini e Franco. Verdadeiro ato de coragem, tendo em vista que o espetáculo, que estreou em 1938, permaneceu em cartaz cerca de quatro dias depois de a Polônia ser ocupada, no ano seguinte, numa resistência que poderia custar – e, em alguns casos, custou – a vida dos envolvidos.
Sobre a autora
Mestre em Jornalismo pela Università La Sapienza em Roma, com pós-graduação em Protocolo Diplomático pela Pontificia Universidad Católica de Chile, Eleksandra Pluta também é autora de Na onda da história. Imigração polonesa no Chile (2009), Raul Nałęcz – Małachowski Memórias de dois continentes (2012) e Andrés, uma vida em mais de 3000 filmes (2013).

Serviço:
Ziembinski, Aquele Bárbaro Sotaque Polonês
Autor: Aleksandra Pluta
Tradução: Luiz Henrique Budant
Editora Perspectiva
320 páginas



domingo, 27 de setembro de 2015

Peças Faladas - Peter Handke



A Palavra Encenada de Peter Handke

Chega às livrarias Peças Faladas, contendo quatro peças do autor austríaco até agora inéditas no Brasil.
Por César Alves

No alvorecer do que seriam os conturbados anos de 1960, um jovem e desconhecido cineasta alemão sentiu-se provocado ao assistir a montagem (se é que a palavra faz sentido em se tratando do texto em questão) de uma peça escrita por um dramaturgo austríaco, também ainda pouco conhecido.
O espetáculo, que rompia com tudo o que tradicionalmente entendemos por peça teatral, indo muito além do despojamento cênico e dramatúrgico, o atingiu profundamente, ao ponto de, logo após a experiência, o cineasta sair a procura de quem o havia escrito, o que acabou dando início a uma longa e produtiva parceria.
O Jovem cineasta se chamava Wim Wenders.
A peça, Autoacusação.
Seu autor, Peter Handke.
Autoacusação é um dos quatro textos de Handke traduzidos por Samir Signeu e reunidos na antologia Peças Faladas, que a editora Perspectiva acaba de publicar, em edição bilíngüe (Alemão-Português), para o deleite dos leitores brasileiros.
Focado na produção dramatúrgica de Handke em que o autor subvertia o ato da escrita teatral, abrindo mão de todos os recursos cênicos tradicionais, limitando ao uso da palavra, além do texto que aproximou o autor de Wim Wenders, completam o livro as peças Predição, Insulto ao Público e Gritos de Socorro. Todas, até então, inéditas por aqui.
Os textos que compõem este Peças Faladas causaram polêmica, como é do feitio de seu autor, desde as primeiras montagens, devido ao estranhamento que causavam no público e não é difícil entender o motivo. Provocador de carteirinha, ao criar suas peças faladas, Handke tinha como intenção eliminar todos os recursos de palco que, para ele, davam às montagens teatrais e à experiência cênica, uma condição sensorial ilusória. Suas peças, então, teriam como único instrumento criativo e condução cênica a palavra falada.
Aqui não há encenação de um drama, tragédia ou comédia; não há personagens, uma história sendo contada ou qualquer coisa parecida; é o próprio texto que protagoniza, desenvolve e provoca a ação dramática e experiência cênica. Como nos é informado em Insulto ao Público: “Vocês não verão nenhum espetáculo. Suas curiosidades não serão satisfeitas. Vocês não verão nenhuma peça”.
Tal proposta é levada ao extremo em Gritos de Socorro, onde toda a ação é composta de recortes que parecem extraídos de campanhas publicitárias, slogans, manchetes de jornais e revistas, com o único intuito de impedir que o público se divirta.
Poeta, romancista, contista, dramaturgo e cineasta, Peter Handke possui uma série de títulos publicados no Brasil, desde meados dos anos 1970. Apesar disso, o autor é mais citado como colaborador de Wim Wenders do que lido entre os brasileiros.
Fruto da relação entre uma austríaca e um soldado nazista, durante os anos de ocupação alemã da Áustria, só depois de adulto o autor foi conhecer seu pai biológico. Ainda criança se mudou com a mãe para Berlim, passando a infância e adolescência, entre os escombros de edifícios e casas, em um país dividido e arrasado pela guerra, pela culpa e pelos crimes megalomaníacos de Hitler e seus asseclas.
Handke obteve reconhecimento cedo, aos 22 anos de idade, com a publicação de seu primeiro romance Die Hornissen, em 1966, mesmo ano em que passa a fazer parte do Gruppe 47, coletivo de autores dedicado ao debate da educação, literatura e democracia na Alemanha do pós-guerra, do qual fizeram parte também Paul Celan, Hans Magnus Hezensberg, Gunter Grass e Heinrich Boll.
Autor de diversas obras importantes, entre elas O Medo do Goleiro Diante do Penalt e Kaspar, adaptado para a tela grande em uma de suas várias parcerias com Wenders, também dirigiu seus próprios filmes, passeando com desenvoltura pelas mais varias linguagens, da poesia à prosa, do teatro ao cinema e etc.


Serviço:
Título: Peças Faladas
Autor: Peter Handke
Tradução: Samir Signeu
Editora: Perspectiva
240 páginas


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Marquês de Sade - Livros



Evangelhos Libertinos (ou Tratado Filosófico de Perversões)

Marquês de Sade é celebrado com  lançamento de dois livros sobre sua obra, A Felicidade Libertina e Os Libertinos de Sade, e apresentação do espetáculo Julliete, da Cia. Os Satyros.
Por César Alves

Muito já foi dito sobre Donatien Alphonse François de Sade. Demonizado por homens santos, conservadores e demais defensores da retidão moral e dos costumes castos, como o Marquês de Sade, tornou-se o anti-papa da religião que celebra o pecado, apóstolo primeiro, entre os pregadores dos evangelhos da luxúria e dos excessos. Ainda assim, para o bem e para o mal, em se tratando de autor e obra tão fascinantes, muito parece ainda ser pouco.
Esse é apenas um dos argumentos que fazem mais do que bem vindos os lançamentos das obras A Felicidade Libertina, de Eliane Robert Moraes, e Os Libertinos de Sade, de Clara Castro, ambos publicados pela editora Iluminuras – que há anos vem disponibilizando para os leitores brasileiros, títulos da obra de Sade, incluindo Os 120 Dias de Sodoma ou a Escola da Libertinagem, A Filosofia na Alcova e Os Infortúnios da Virtude.
Embora no exterior contavam-se mais de seiscentos títulos sobre a obra do Marquês de Sade – todos publicados entre 1950 e 1973, ano em que foi a realizada a pesquisa –, no Brasil, poucos estudos sérios nesse sentido foram publicados, até os dias de hoje. É justamente para preencher tal vácuo que chegam os novos títulos.
Em A Felicidade Libertina, a pesquisadora Eliane Roberto Moraes faz uso das personagens e enredos criados pelo prolífico autor para introduzir e destrinchar a filosofia “lúbrica” de Sade para o leitor brasileiro. Já, em Os Libertinos de Sade, Clara Castro debruça-se sobre a obra e suas diversas encarnações no universo da arte – além do teatro e cinema, como a clássica adaptação de Os 120 Dias de Sodoma, de Pasolini, Sade teve forte impacto sobre movimentos artísticos como o Surrealismo, por exempl0 –, descrevendo sua verdadeira importância, que vai muito além da literatura erótica e pornográfica, como erroneamente muitas vezes é catalogado.
O lançamento oficial de ambas as obras acontece quinta-feira, 14 de maio, na Estação Satyros, residência da Companhia Teatro d´Os Satyros, que encena, até 30 de junho, o texto Juliette, da obra do Marquês de Sade.

O Filósofo “Lúbrico”
Considerado “um libertino entre os libertinos”, capaz de enrubescer constrangidos até mesmo alguns dos pornógrafos declarados, sua vida e obra foram o suficiente para seu nome estar na raiz do substantivo “sadismo”, como definição de perversão sexual extremada, e que, para seus adeptos, fosse cunhado o adjetivo “sádico”.
Nascido em 1740, filho de aristocratas franceses – o que lhe renderia o título de conde e não marquês, como ficou famoso –, logo na infância Donatien deu sinais de seu comportamento errático e tendências violentas que lhe renderiam uma ficha corrida de fazer inveja a muitos criminosos lendários da historia.
Na tentativa de preparar o filho para uma vida grandiosa no seio da aristocracia e honrar o nome da família futuramente, sua mãe fez de tudo para aproximar o menino de Louis-Joseph de Bourbon, príncipe de Condé, contando que, assim, seu filho cultivaria, desde cedo, uma amizade com um membro da realeza.
Primeira de muitas manifestações de seu comportamento descontroladamente impulsivo que, mais tarde, associado às suas experiências sexuais extremas, que chocaram a burguesia de sua época, e declarações nada veladas contra a igreja, o matrimônio e a moral aristocrática, que o levaram a ser perseguido pelo clero e toda a sociedade, rendendo à ele diversas prisões por sodomia, heresia e indecência – ao contrário do que pode se pensar, suas passagens por prisões, incluindo a famigerada Bastilha, foram motivadas por suas práticas de perversão e lascívia, não por seus escritos, que surgiram justamente durantes suas estadias no cárcere. Sua vida foi uma verdadeira coleção de desafetos, que vão da Igreja a Napoleão Bonaparte, passando pelos rebeldes que perpetraram a Revolução Francesa.
Durante o bicentenário da morte de Sade, no ano passado, sua obra passou por uma reavaliação, com direito a homenagens e uma exposição no Museu D´Orsay de Paris. Nada mau para alguém que teria pedido em seus últimos momentos que fosse esquecido e que seu corpo fosse abandonado para apodrecer em um terreno baldio ou servir de alimento para animais carniceiros, entre as árvores de uma floresta.


Serviço:

Livros:

A Felicidade Libertina
Autor: Eliana Robert Moraes
280 páginas

Os Libertinos de Sade
Autor: Clara Castro
312 páginas
Editora: Iluminuras
Lançamentos: 14 de maio. Das 18H30 às 20h30 – Local: Estação Satyros

Peça:

Juliette
Texto: Marquês de Sade
Direção: Rodolfo Garcia Vasquez
Elenco: Teatro d´Os Satyros
Local: Estação Satyros
Endereço: Praça Roosevelt, 134 – Consolação – São Paulo – SP