Mostrando postagens com marcador Editora Aleph. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Editora Aleph. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Duna de Alejandro Jodorowsky



Duna: entre o épico de Frank Herbert e o maior filme de ficção-científica jamais realizado

De volta às livrarias brasileiras, em novas edições da Aleph, Duna não só se tornou uma das maiores séries ficcional-científicas, como  também se tornou obsessão para Alejandro Jodorowsky.
Por César Alves

Um elenco de peso que incluía Orson Welles, Salvador Dalí e Mick Jagger, entre outros; trilha sonora composta exclusivamente para a película pelo Pink Floyd; uma super produção de ficção-científica, sob a direção de Alejandro Jodorowsky. Sugiro ao amigo leitor (a) que imagine como seria tal obra, pois imaginá-la é tudo o que se pode fazer, tendo em vista que se trata de uma das mais influentes e cultuadas obras cinematográficas, jamais realizadas: Duna de Jodorowsky!
Considerada um marco na produção literária de ficção-científica moderna, Duna, que inaugura a série épica, escrita por Frank Herbert, foi publicado originalmente em 1965 e ainda hoje ostenta o título de obra de ficção-científica mais vendida em todo o mundo.
Vencedor do Prêmio Hugo de 1966 – primeiro dos muitos que colecionaria durante sua trajetória –, Duna daria início a saga que viria a se tornar uma das mais longevas do gênero, sendo seguido por mais outros cinco títulos, que estão ganhando novas edições em português, através da editora Aleph – já estão disponíveis os livros que formam a primeira trilogia: Duna, Filhos de Duna e Messias de Duna.
Num futuro distante, muito depois do desaparecimento de nossa civilização da qual, embora praticamente esquecida, ainda sobrevivem, numa espécie de memória ancestral, conceitos e tradições religiosas e filosóficas, adaptadas ao novo ambiente, a história se desenrola durante a expansão de um Império Intergaláctico, dividido em feudos planetários controlado por Casas Nobres, sob a liderança da casta imperial da Casa Corrino.
O herói da trama, Paul Atreides, é filho do Duque Leto Atreides e herdeiro da Casa Atreides, tem seu destino mudado na ocasião da transferência de sua família para o planeta Arrakis, fornecedor e única fonte no universo do cobiçado Melange, especiaria cobiçada, espécie de alucinógeno ou droga capaz de proporcionar ao usuário poderes psíquicos e extra-sensoriais inimagináveis.
É na jornada de descobertas de Paul e outros personagens do universo expandido de Duna que Herbert parte para explorar a complexidade das relações políticas, religiosas e emocionais, passando pelo debate em torno da interação entre avanço tecnológico, exploração de meios naturais e seu impacto ecológico, muito pertinente na época de seu lançamento, o que explica o fato de a série ser ainda hoje apontada como uma das mais importantes e inovadoras obras de ficção e fantasia publicadas na segunda metade do século vinte.
Não é de se admirar que a série tenha se tornado uma das franquias literárias mais cultuadas da história e recebesse uma adaptação cinematográfica, o que aconteceu em 1984, sob a direção do não menos cultuado David Lynch. O filme de Lynch, no entanto, – pelo menos para este escriba – ficou muito aquém não só do original, como também da obra cinematográfica de seu diretor.
O que nem todo mundo sabe é que a aventura audiovisual de Duna não começa com Lynch, mas quase uma década antes, como uma obsessão quase religiosa de outro cultuado diretor, o chileno Alejandro Jodorowsky, rendendo uma obra que se tornou tão revolucionária quanto lendária, mesmo que nunca tenha sido concluída.

Duna de Jodorowsky



Na primeira metade dos anos 1970, o multimídia Alejandro Jodorowsky gozava de respeito quase devoto entre a nata intelectual e artística internacional. Entre seus admiradores e colaboradores estava o ex-beatle John Lennon, por exemplo.
Personalidade do primeiro time das vanguardas latino-americanas, passeando com desenvoltura nas mais diversas funções; entre elas as de ator, diretor, dramaturgo e poeta – também psicólogo ou “psicomago”, como prefere –, era como cineasta que seu nome ganhava mais atenção. Adepto dos experimentos estéticos do surrealismo, seus projetos cinematográficos sempre foram marcados por sua obsessão inquestionável de ter controle indiscutível sob cada detalhe da produção, escrevendo, dirigindo e atuando. Postura que tinha como princípio sua visão de cinema como algo além do entretenimento e mercado e sim como expressão artística máxima, mais de linguagem, uma experiência sensorial e religiosa.
Assim foram realizados filmes como Pando y Lis (1968), El Topo (1970) e A Montanha Mágica (1973) que, mesmo considerados de público restrito, relegados às sessões especiais, exibidos após a meia noite, ganharam reconhecimento da crítica e do público, que formavam filas para assisti-los, apesar do horário.
Reconhecendo tais qualidades e baseando-se no sucesso que seus filmes obtinham entre o público europeu, seus distribuidores franceses decidiram lhe oferecer carta branca e orçamento ilimitado para seu próximo projeto. Reza a lenda que, durante a reunião com seu produtor, Michel Seydoux, lhe foi perguntado o que ele gostaria de filmar. Olhando para a estante de livros, Jodorowsky teria apontada uma das obras e respondido:
“Duna!”
Ao que foi apoiado de imediato, tendo em vista o sucesso que o livro vinha obtendo nas livrarias e a quase certeza de se repetir na grande tela. O mais engraçado é que, segundo o próprio diretor, até ali, embora soubesse do que se tratava o livro de Frank Herbert, Jodorowsky não o havia lido, o que tratou de fazer no mesmo dia, já preparando seu roteiro.
Um castelo francês teria sido alugado para funcionar como sede da equipe de pré-produção e ao diretor foi dado total controle e liberdade para contratar quem bem entendesse. Alejandro abraçou o projeto como uma verdadeira missão religiosa, cruzada revolucionária em busca de corações e mentes que fariam daquela sua obra definitiva. Para a produção gráfica, criação de storyboards e figurinos, foram convocados os geniais H. R. Giger, Moebius e Chris Foss. Com o aval de seus produtores, Salvador Dalí foi contratado, mesmo tendo exigido receber como “o ator mais bem pago da história de Hollywood”; Orson Welles teria a sua disposição o chef de seu restaurante francês predileto, como cozinheiro particular, durante as filmagens; Mick Jagger colocou-se a disposição para atuar no filme, antes mesmo de ser solicitado, ao saber das intenções do diretor de incluí-lo na película, assim como David Carradine.

Jodorowsky chegou a dispensar o responsável pelos efeitos especiais de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, por achar que ele não abraçaria o projeto como um apóstolo devotado e sim como um investidor financeiro, preferindo o, até ali pouco conhecido, Dan O´Bannion dos filmes de John Carpenter, futuro criador da série Helloween.
Reunindo-se com os integrantes do Pink Floyd, nos estúdios Abbey Road, durante as gravações de The Dark Sido of the Moon, ficou acertado que a banda assumiria a composição da trilha sonora.
Com tudo isso, não há duvidas de que estava pronta a estrutura que faria do Duna de Jodorowsky um clássico e chega a ser inacreditável nunca ter sido concluído.
O projeto caminhava bem até esbarrar na burocracia e visão mercantilista do braço norte-americano da produção. Para apresentá-lo aos grandes estúdios de Hollywood, um storyboard, com descrições técnicas, movimentos de câmeras, cenas desenhadas por Moebius e tudo o mais, foi criado e passou pelas mãos de cada um dos manda-chuvas da indústria, recebendo elogios, mas pouca disposição para arriscar em uma obra tão ousada. Além do mais, Jodorowsky não abria mão de concluir e exibir seu filme exatamente como o concebera, recusando-se a aceitar as mudanças sugeridas pelos magnatas da indústria e, muito menos, editá-la – o filme teria cerca de doze horas de duração!
O projeto acabou engavetado, mas sua influencia sobre tudo o que foi feito depois, ainda hoje, é visível. O storyboard, concebido por Jodorowsky e Moebius, acabou circulando como um guia nas mãos de diretores e produtores da indústria, sendo suas indicações de enquadramento, movimento de câmera, estética gráfica e, inclusive, cenas inteiras, aproveitadas em obras como Star Wars, Alien, Blade Runner, Prometheus e diversas outras grandes e médias produções de Sci-Fi até hoje.

A saga de Alejandro Jodorowsky e seu Duna, aliás, foi alvo de um ótimo documentário, Jodorowsky´s Dune (2013), dirigido por Frank Pavich.



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A Jornada do Escritor - Christopher Vogler (Livro)




A Jornada Heroica do Autor

Depois de anos fora de catálogo, A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler, volta às livrarias brasileiras em nova edição da editora Aleph.
Por César Alves

Em conversas com amigos já disse mais de uma vez que a única regra válida para a escrita criativa é a de regras existem para ser quebradas. Não se aprende a ser criativo; não se ensina a ser escritor, o artista forma-se e, formando-se, desenvolve, inventa e reinventa suas próprias formas e linguagens.
Mas isso não significa que a arte de contar histórias não possui suas próprias formas inevitáveis e que o bom contador de histórias deve ignorá-las. Conhecê-las bem, aliás, mesmo que para subvertê-las, como é do feitio de escritores realmente bons, é quase uma obrigação. Como defende Christopher Vogler forma não significa fórmula e é às formas que compõe uma grande história a que se dedica em seu A Jornada do Escritor, que após anos longe de nossas prateleiras ganha nova edição em português pela editora Aleph.
Desde que o herói Gilgamesh empreendeu sua epopéia no poema épico da Mesopotâmia, registrados em escrita cuneiforme em placas no século sétimo antes de Cristo, até a última aventura de Batman ganhar as telas dos cinemas e faturar milhões em bilheteria; passando pelo bravo Odisseu e sua argúcia para vencer as armadilhas de Posseidom em sua jornada de volta a Ítaca, depois de vencer praticamente sozinho a guerra contra os troianos, com a brilhante estratégia do cavalo de madeira, certas características na narrativa de uma aventura continuam as mesmas.
Tais características e passagens, denominadas A Jornada do Herói, foram tema recorrente na obra de Joseph Campbell, especialista em mitologia e religião comparada norte-americano. Em sua obra O Herói de Mil Faces, Campbell disseca passagens recorrentes na trajetória heróica dos mitos ancestrais, tanto na mitologia clássica, quanto na bíblica e cristã, de Homéro a Shakespeare, tais como O Chamado à Aventura e A Descida aos Infernos, por exemplo. Foi justamente inspirado em O Herói de Mil Faces, de Campbell, que Vogler desenvolveu seu A Jornada do Escritor.
O livro apropria-se dos tópicos abordado pelo genial mitólogo norte-americano em seus estudos obrigatório, usando uma linguagem atual e acessível, fazendo uso não só dos exemplos mitológicos clássicos de Campbell como também de obras contemporâneas como a trilogia Star Wars, de George Lucas, entre outras, por exemplo.
Além de Campbell, Vogler baseou-se nos estudos de Carl G. Jung sobre arquétipos e Inconsciente Coletivo para estruturar seu livro que é considerado uma das obras mais importantes sobre estrutura literária hoje, utilizada como guia por escritores de roteiros cinematográficos, peças de teatro e literatura.
Longe de ter a intenção de estabelecer fórmulas – o próprio autor sugere aos seus leitores que as desconstrua, afinal, a simples leitura do livro não faz de ninguém um escritor –, a obra oferece uma série de dicas e observações importantes para se compreender o processo de construção de uma narrativa, como amarrar bem uma história e, através de uma leitura atenta, ajudar na formação de escritores como escrever com maestria.
Consultor de grandes estúdios, o autor colaborou com filmes de grande sucesso como O Rei Leão, Clube da Luta e Cisne Negro, entre outros. Leitura indicada tanto para estudantes e profissionais das mais diversas áreas da escrita criativa, quanto para leigos.

Serviço:
Título: A Jornada do Escritor
Autor: Christopher Vogler
Editora: Aleph
488 páginas





sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Perfuraneve - Quadrinhos




A Podridão Viaja de Trem

A ficção-científica pós-apocalíptica de O Perfura Neve, graphic novel concebida pelos franceses Jacques Lob, Jean-Jacques Rochette e Benjamin Le Grand, chega às nossas livrarias.
Por César Alves


Em um vagão lotado de miseráveis, alguns de seus passageiros – talvez tentando se esquecer da fome e do frio –, decidem comemorar o aniversário do mais velho entre eles. A situação e condição em que se encontram não oferecem possibilidade para a realização de uma festa, mas, dentro de suas possibilidades, os passageiros prometem ao ancião o que ele mais gostaria de ter como presente, naquele momento. Ele responde:
“Solidão. Ficar sozinho, nem que seja por uma hora ou duas”.
Todos consentem e se apertam com os demais passageiros do vagão ao lado, para dar ao pobre senhor, uma hora de privacidade, realizando seu desejo. Enquanto aguardam, divertem-se, conversando sobre o que estaria ele fazendo, com a rara privacidade concedida.
Ao final daquela hora, todos retornam ao vagão original, curiosos sobre como ele teria aproveitado seu tempo e se estaria feliz com o presente. Para o espanto de todos, encontram o aniversariante dependurado com uma corda ao redor do pescoço. Aproveitara seus minutos de solidão para dar fim a sua vida e escapar de seu martírio. 

Concebida originalmente em 1980 pelos franceses Jacques Lob e Jean-Jacques Rochette, a graphic novel, O Perfuraneve (Le Transperceneige), é considerada uma obra prima da ficção-científica em quadrinhos e a tradução de Daniel Luhmann, que acaba de ser lançada no Brasil pela Editora Aleph, comprova não se tratar de exagero.
Ambientada num mundo pós-apocalíptico, lançado numa nova Era do Gelo, depois de uma hecatombe nuclear, a trama gira em torno dos conflitos dos últimos sobreviventes da raça humana, condenados a vagar pelo planeta num mega trem de 1.001 vagões, considerado a última esperança da espécie, o Perfuraneve.
Ao contrário do que se deveria esperar – e a historia do homem conhecida até aqui só comprova não ser coisa da ficção –, face à ameaça de extinção, os remanescentes do que foi um dia a civilização não se unem em nome de um bem comum e vencem suas diferenças para salvar a espécie. O que se dá, é exatamente o oposto.
Uma vez embarcados, os passageiros imediatamente passam a reproduzir o comportamento que rege a sociedade, no que ela tem de pior. A beleza e inteligência do texto vêm justamente na maneira como os autores souberam reproduzir isso, através da maneira como estão divididos os vagões. Sendo que os últimos deles acomodam os pobres e miseráveis – os fundistas –, proibidos de interagir com os demais passageiros; enquanto que estes são destinados, de forma crescente, aos mais ricos, revelando melhor conforto e condições de vida, de acordo com as posses e classe econômica de seus passageiros. Sendo assim, O Perfuraneve mergulha nas profundezas de nossa espécie, revelando um microcosmo da civilização em suas mais vergonhosas e desprezíveis características, como a intolerância, a ganância e a violência, expostas nas atitudes políticas, daqueles que administram o trem, com como nos adeptos de uma nova religião, surgida das cinzas das religiões monoteístas conhecidas, que, uma vez confinadas, readaptam sua fé, substituindo a figura de Deus pela Máquina Sagrada que corre nos trilhos.
A série teve continuidade em dois outros volumes, The Explorers (1999) e The Crossing (2000), escritas por Benjamin Legrand. Além do belo tratamento gráfico, a edição brasileira tem a vantagem de reunir toda a saga em um único volume.
Definitivamente, imperdível, a obra original foi adaptada para o cinema em 2013, lançado no Brasil como O Expresso do Amanhã, do diretor coreano Bong Joon-ho, estrelado por Chris Evans (o Capitão América dos filmes da Marvel).


Serviço:

Título: O Perfuraneve
Editora: Aleph
280 páginas


terça-feira, 17 de março de 2015

O Quinto Beatle - Quadrinhos



O Quinto Fabuloso de Liverpool

Sucesso de crítica e vendas, a premiada biografia do empresário dos Fab Four em quadrinhos deve virar filme e chega ao Brasil pela editora Aleph.
Por César Alves

Contrariando um velho clichê muito explorado em artigos, livros e documentários sobre a história dos Beatles – a de que o produtor George Martin seria a cabeça de número cinco na máquina criativa e bem sucedida dos quatro fabulosos de Liverpool –, em 1999, o ex-Beatle, Paul McCartney teria declarado: “se houve um quinto beatle, este foi Brian Epstein. Brian era praticamente parte do grupo”. O depoimento foi a inspiração para o título de O Quinto Beatle, Graphic Novel, recentemente, publicada no Brasil pela editora Aleph, que conta a história do empresário, divulgador e principal responsável pela beatlemania em quadrinhos.

Escrita por Vivek J. Tiwary e com desenhos de Andrew C. Robinson, a obra narra a história de Epstein, a partir do momento que ele descobre seus futuros protegidos e decide empresariá-los até sua morte, em 1967, por uma overdose acidental.
Dono de uma loja de discos e também empresário de outras bandas de Liverpool, como Gerry and The Peacemakers e Billy J. Kramer, Brian Epstein foi o primeiro a perceber o potencial do grupo, ao ponto de insistir em conseguir um contrato para eles quando ninguém apostava que eles poderiam ser alguma coisa, dentro do Show Business. Visionário, desde os primeiros momentos da carreira do quarteto, declarava “um dia, eles serão maiores do que Elvis Presley”, provocando risadas em gente do meio musical.
Epstein, que era judeu, quando ser judeu era no máximo algo aceitável, e homossexual, quando o homossexualismo era tratado como crime ou doença, foi responsável pela construção visual dos Beatles, convencendo-os a trocar seus casacos de couro rockers pelos famosos terninhos de gola que os fizeram mais apresentáveis para o público britânico
São os desafios, tanto na vida pessoal, quanto profissional, abraçados pelo empresário que dão o tom da narrativa, que representa em alguns momentos, Epstein como um toureiro. Tais experimentos visuais foram a opção dos autores para representar, de forma simbólica, os embates internos e externos sofridos por ele, que tomava remédios para “curar” seu homossexualismo.
Em vários momentos, os autores recorrem a elementos fantasiosos para caracterizar os efeitos das drogas, colocando o leitor na perspectiva de Epstein. Como, por exemplo, a negociação entre ele e o apresentador Ed Sullivan para a apresentação dos Beatles no programa de maior audiência nos Estados Unidos da época e que deu ignição à beatlemania. Durante a conversa com Sullivan, o apresentador fala através de um boneco de ventríloquo.

O texto foi construído através dos depoimentos de amigos e colaboradores do empresário, como Nat Weiss, advogado dos Fab Four, e Joanne Pettersen, assistente pessoal de Brian Epstein.
Da relação afetuosa entre Epstein e Pettersen – aqui como Moxie –, passando pela explosão mundial do grupo; os escândalos – como a declaração de Lennon de que “os Beatles agora são maiores que Jesus Cristo” e sua repercussão entre conservadores e religiosos xiitas –, e as férias na Espanha que o empresário teria passado com John e que ainda hoje rende debates sobre a sexualidade de Lennon, trata-se de um belíssimo trabalho.
A Graphic Novel esteve por cinco semanas entre a lista dos mais vendidos do The New York Times, foi indicada ao Prêmio Eisner, o mais importante dos quadrinhos, e vai ser adaptado para o cinema no ano que vem, com direito ao uso de canções, autorizado pelos Beatles sobreviventes.


Serviço:
Título: O Quinto Beatle.
Autor: Vivek J. Tiwary.
Ilustrador: Andrew C. Robinson.
168 páginas
Editora: Aleph.





quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Ray Kurzweil - Como Criar Uma Mente



A desconstrução do cérebro e a criação da nova mente

Inventor, futurista e visionário da Era Tecnológico, Ray Kurzweil propõe a engenharia reversa do cérebro humano, como receita para a criação das futuras máquinas inteligentes perfeitas.
Por César Alves

O homo sapiens, até o momento, parece ser a única espécie surgida neste planeta cujo sucesso evolucionário, além de alçá-lo ao topo da cadeia alimentar na luta pela sobrevivência, também inaugurou um novo degrau evolutivo pós-seleção natural.
Através da observação, coletada, registrada e transmitida uns aos outros sobre o funcionamento da natureza a sua volta; e da criação e invenção de instrumentos, talvez, não seja um completo exagero dizer que a humanidade passou para um novo estágio. Agora não só se adapta ao ambiente, como também, desde que abandonou o nomadismo, o homem adapta a ele o mundo em sua volta.
Como já defenderam muitos estudiosos, esse novo estágio segue por duas linhas evolutivas separadas que, paralelamente, seguem na direção do mesmo destino: a da técnica e do pensamento. Da lança ou míssil balístico e foguetes que nos levaram à lua; da escrita cuneiforme ao e-mail e os modernos computadores de bolso, ambas as linhas são guiadas e impulsionadas pelo mesmo motor e principal acessório biológico da espécie: o cérebro.
Desde que o matemático e criptógrafo, Alan Turing, um dos pais da ciência da computação, vislumbrou o futuro de máquinas inteligentes, que teria sido desencadeado pelo surgimento dos primeiros computadores, lançando as bases do moderno conceito de Inteligência Artificial, ainda em meados dos anos 1950, parece ter ficado claro que o próximo passo da invenção humana passaria pelo desafio de dar aos instrumentos, frutos de sua capacidade técnica, o dom do pensamento.
Décadas à frente de seu tempo, os conceitos e teorias abordados por Turing décadas atrás, em parte, já são realidade. Afinal, vivemos em um mundo de máquinas inteligentes. Mas seus conceitos foram muito além dos aparelhos celulares que conversam e atendem ao chamado de voz do proprietário, computadores que jogam xadrez e drones que espionam e bombardeiam alvos inimigos, sob um comando feito a quilômetros de distância. Ele vislumbrava um mundo em que as máquinas seriam capazes de igualar de forma tão profunda o raciocínio e intelecto humano, inclusive em suas complexidades, ao ponto de se tornar impossível a distinção entre uma pessoa e uma máquina, durante uma conversa.

Essa etapa, segundo defende, o inventor e futurista, Ray Kurzweil, também está mais próxima do que pensamos – em entrevistas, chegou a datar 2029 como o ano do surgimento das primeiras máquinas inteligentes. O segredo, conforme aposta em seu livro, Como Criar Uma Mente, que acaba de sair no Brasil pela Editora Aleph, está na compreensão do funcionamento de nosso cérebro, processador da mais complexa e perfeita máquina biológica conhecida, o corpo humano.
A obra, que acaba de sair no Brasil pela Editora Aleph, busca desvendar os segredos do pensamento humano e propõe que a entrada na era das máquinas inteligentes prevista por Turing passa por um processo de engenharia reversa do cérebro humano para desvendar seu funcionamento, principalmente de nosso neocórtex – exclusividade do cérebro de animais mamíferos, que é responsável por nossa capacidade de lidar com padrões de informação de forma hierárquica.
Para o autor, tal característica do cérebro biológico, é fundamental para a construção da mente artificial perfeita e, inspirado na maneira como são processadas as informações pelo neocórtex humano, desenvolveu uma Teoria da Mente Baseada em Reconhecimento de Padrões, descrita no livro.
 Mas, ao contrário do que alguns leitores poderiam supor, suas idéias vão além da teoria. Para comprovar o que fala, Kurzweil se apóia em diversos projetos e estudos em andamento com esse propósito, além das mais recentes descobertas no estudo científico sobre o funcionamento do cérebro e como tais avanços da neurociência colaboram com o desenvolvimento da inteligência artificial.
Atual Diretor de Engenharia do Google e fundador da Singularity University, Kurzweil, classifica-se como uma das mentes contemporâneas dotadas do mesmo intelecto visionário de Alan Turing. Autor de The Age of Intelligent Machines (A Era das Máquinas Inteligentes), que ganhou o Association of American Publisher´s Award de Melhor Livro de Informática de 1990.

Além de apresentar um apanhado do que vem acontecendo na vanguarda dos avanços e descobertas em neurociência e tecnologia atualmente, Como Criar Uma Mente faz um apanhado dos principais exercícios mentais, realizados por gênios como Charles Darwin e Albert Einstein para comprovar suas teorias, responsáveis pelos maiores avanços no conhecimento científico dos dois últimos séculos, além de sugerir ao leitor exercícios para comprovar suas próprias teorias. O livro também aborda a interface Homem-Máquina e demais temas pertinentes ao tema e que estarão cada vez mais em voga nas próximas décadas.
Dele, a editora Aleph já havia publicado anteriormente A Era das Máquinas Espirituais, que recomendo como leitura essencial para compreender esse nosso admirável mundo novo e as grandes expectativas que o futuro nos reserva.

Serviço:
Título: Como Criar Uma Mente
Autor: Ray Kurzweil
Editora: Aleph
400 páginas



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Violent Cases - Neil Gaiman e Dave McKean



Volta às livrarias, Violent Cases, primeira Graphic Novel da parceria Gaiman e McKean
Por César Alves


Literalmente, Violent Cases poderia ser traduzido por Casos Violentos, mas a graphic novel que inaugurou a parceria fértil entre Neil Gaiman e Dave McKean – e que acaba de ser relançada, em edição de luxo da editora Aleph – traz, já no título, uma de suas características mais marcantes: o jogo de palavras e os aspectos nebulosos da memória.
O título faz uso da semelhança de sonoridade que as palavras, Violent e Violins (violinos), podem ter quando pronunciadas. Associado à palavra Case, que tanto pode significar Caso como também Estojo, Violent Case é como o narrador da história se lembra de ter entendido quando o pai lhe contara sobre os estojos de violino em que os mafiosos italianos guardavam suas metralhadoras Tommy Gun, durante a Lei Seca.
Publicada originalmente em 1987, Violent Cases é normalmente citada entre as obras que, no ano anterior, redirecionaram o segmento a um novo público e abriram os olhos daqueles que se recusavam a dar ao formato das histórias em quadrinhos o status de arte, como O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore. Diferente destes títulos, no entanto, a obra de Gaiman e McKean não se alinhava no imbatível gênero “super-heróis”. Trata-se das memórias confusas de uma infância brutal, narrada por um personagem que, aos quatro anos de idade, teria conhecido, através do pai, um médico osteopata que teria trabalhado com o gangster Al Capone.

Nascida como um conto escrito por Gaiman, Violent Cases se divide entre os relatos de dois personagens. O narrador, agora adulto, tenta se lembrar dos dias em que, depois de ter seu braço quebrado pelo pai – a narrativa não deixa claro se por acidente ou por um caso de violência doméstica –, que o leva para se tratar com um amigo seu, o esteopata de Capone.
A trama entrelaça memórias pessoais do garoto com as histórias que ele ouvira de seu médico, resultando numa narrativa experimental em que passagens da vida de uma criança se confundem entre fato e ficção, imaginação e as histórias violentas que ele ouvira durante sua rápida relação com o doutor. Tudo isso, associado aos desenhos de McKean oferecem um resultado textual e visual impressionante, quase cinematográfico. A sequência em que, durante uma festinha de aniversário, crianças dançam, cantam e brincam de dança das cadeiras, com a narrativa do médico sobre Al Capone, em um de seus rompantes de fúria, destroçando com um bastão de baseball as cabeças de seus desafetos, como quem quebra uma piñata de doces, é brilhante.
Na época, Gaiman, que logo se tornaria uma estrela no universo dos comics como autor da série Sandman, pretendia escrever uma historia que pudesse ser lida por qualquer pessoa e que pudesse revelar de forma definitiva o potencial das Graphic Novels. Em sua preferência por explorar as profundezas da memória, fatos e personagens reais, está mais próxima de obras da mesma época, não menos revolucionárias, como Maus, de Art Spigealman, e The Dreamer, de Will Eisner, e também pode estar no início de um fio condutor que abriria as portas para a premiadíssima Persépolis, de Marjane Satrapi, por exemplo.
Fora das prateleiras desde que HQM Editora a lançou por aqui pela última vez, a nova edição da Aleph traz textos depoimentos de seus autores, Gaiman e MacKean, e apresentação do celabrado Alan Moore.

Serviço:
Título: Violent Cases.
Autor: Neil Gaiman.
Ilustrador: Dave McKean.
Tradução: Érico Assis.
Número de páginas: 64.
Editora: Aleph.