quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Iluminuras - Arthur Rimbaud




O Desregramento dos Sentidos de Rimbaud

Depois de quase duas décadas fora de catálogo, obra testamento de um dos maiores poetas franceses volta às livrarias brasileiras.
Por César Alves

Dentre as personalidades inaugurais da poesia moderna, Arthur Rimbaud é o tipo de artista que, embora possa ser considerado o primeiro de muitos, possui obra e biografia únicas. Como o próprio Rimbaud previra – arroubos provocativos de arrogância juvenil, para alguns; momento visionário e exposição corajosa de alguém capaz de enxergar adiante, típica do artista seguro de seu talento, originalidade e, portanto, da longevidade de sua obra, para muitos – sua poesia, mais que divisora de águas, fez-se um marco e abriu as portas para a invasão bárbara, promovida por outros, dotados de seu mesmo espírito anárquico e experimental, que o seguiram e transformaram os conceitos estéticos e padrões artísticos, até então, estabelecidos.
Direta ou indiretamente, Rimbaud influenciou quase tudo o que aconteceu de relevante na historia da cultura e arte ocidental posterior a ele. Dos Surrealistas aos Beatniks, passando pelas vanguardas artísticas e movimentos modernistas europeus e americanos; da Contracultura aos patet... – ooops! – “poetas” do rock brasileiro. Tudo no curto período de sua vida que vai de seus 17 aos 21 anos de idade, tornando quase impossível evitar o clichê comumente associado a seu nome, Infant Terrible.
Uma trajetória marcada por criatividade intensa, ousadia – tanto poética, quanto comportamental – e boemia, que, para muitos, encontra em Iluminuras (Gravuras Coloridas) seu testamento poético. O livro, cuja tradução brasileira, feita pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Mendonça, havia desaparecido das livrarias ha quase duas décadas, acaba de ser relançado, em edição revista da Editora Iluminuras (mesma casa editorial das edições anteriores).

Escrito entre 1873 e 1875, durante suas passagens por Londres, Paris, Alemanha, Holanda e Dinamarca, em meio aos momentos de paixão e fúria que marcaram seu conturbado relacionamento com o poeta Paul Verlaine e pouco tempo antes de seu inexplicável rompimento com a literatura, Iluminuras, ao lado de seu livro anterior Uma Temporada no Inferno – título que o precede, traduzido no Brasil por Ledo Ivo –, se inscreve entre as grandes e fundamentais obras da poesia moderna.
Considerar Iluminuras como obra-testamento da poesia de Rimbaud não é mera característica criada por especialistas e críticos para catalogar a importância de um título específico, dentro da obra de determinado artista.
Se o ímpeto experimental e a proposta de promover uma rebelião contra as formas estéticas e dogmas temáticos e estilísticos que pontuavam a produção de sua época, já estavam visíveis em sua obra desde que o autor de O Barco Bêbado chamou a atenção do Panteão Literário francês, sob as bênçãos de Victor Hugo para aquele jovem poeta de 17 anos, é aqui que sua proposta de uma “alquimia verbal” se confirma. Aqui, “o poeta se faz vidente por um longo, imenso e irracional desregramento de todos os sentidos”, em instantâneos caleidoscópicos de sonhos, alegorias e experimentos líricos, harmônicos e textuais.
Como este que vos escreve não passa de um mero admirador do gênero, está longe de ser um especialista ou crítico de poesia e, principalmente, para evitar exageros verborrágicos e frases pretensiosas, como as que fecham o parágrafo anterior, paro por aqui com minha análise da obra e sugiro aos colegas a leitura obrigatória do livro.
Bilíngue, a nova edição de Iluminuras traz também um ensaio crítico, assinado pelos tradutores.
Nascido em Charleville, em 1854, Jean-Nicolas Arthur Rimbaud escreveu cerca de vinte livros de poesia antes dos 21 anos, até abandonar de vez o ofício da escrita. Depois disso, empreendeu uma série de jornadas clandestinas, chegando a se alistar no Exército Colonial Holandês, simplesmente para poder entrar livremente em Java (Indonésia). Tais viagens o levaram ao continente africano, onde atuou como traficante de armas. Última “profissão” que exerceu, antes de sua morte, aos 37 anos, quando retornou a Paris, depois de uma gangrena que o levou a amputar uma das pernas.

Serviço:
Título: Iluminuras
Tradução, notas e ensaio: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
Editora: Iluminuras
192 páginas






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