segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cinco Relacionamentos Abertos que Revolucionaram as Artes (Livro)



A Vida Amorosa dos Artistas

Cinco casais, formados por artistas consagrados e notórios em suas épocas, cujas relações abertas desafiaram as convenções matrimoniais vigentes e revolucionaram as artes e comportamento, são estudados em livro.
Por César Alves


Lou-Andreas Salomé, não dava muito crédito ao talento de seu jovem amante e aspirante a poeta, quando – aos 36 anos, casada e com o consentimento do marido – deu início ao caso com o ainda desconhecido e muito mais jovem, Rainer Maria Rilke. Na época a bela, inteligente e libertária Salomé já havia sido a terceira parte de uma tríade sexual e amorosa, cujos outros dois amantes célebres eram o filósofo Friedrich Nietzsche e Paul Reé e escandalizava a sociedade de sua época com seus escritos e idéias de mulher a frente de seu tempo – rezam as más línguas que o filósofo do martelo teria saído da relação aos pedaços, Salomé foi a Lilith que destroçou o coração do “homem que matou Deus”.
Mais madura e com uma carreira e trajetória definida, mesmo Salomé, talvez não pudesse imaginar que aquele relacionamento iria ultrapassar o ardor da alcova, evoluindo para uma parceria amorosa e criativa, num matrimônio que refletiria nas obras de ambos. Um casamento que desafiaria as convenções. Artisticamente, íntimo e limitado a cumplicidade do casal, e, do ponto de vista sexual, aberto a diversos parceiros, com o conhecimento e consentimento de ambos.
Esta e outras histórias de cinco casais avant-la-lettré, todos formados por artistas e intelectuais respeitados, cujos relacionamentos desafiaram as convenções e puseram em dúvida a sacralidade do casamento, fazem parte do fascinante e delicioso Amores Modernos, livro de Daniel Bullen que acaba de chegar às livrarias brasileiras pela editora Seoman.

A obra estuda as relações de Lou Salomé e Rainer Rilke; Georgia O´Kieffe e Alfred Ztieglitz; Frida Khalo e Digo Rivera; Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir e Henry Miller e Anais Nin, analisando o reflexo que a maneira por eles escolhida para conduzir suas vidas, tanto afetiva, quanto íntima, teve sobre suas obras e até que ponto tais artistas e seus modos de vida estavam à frente de seu tempo e em sintonia com o comportamento amoroso de casais contemporâneos – principalmente nos casos de Sartre e Beauvoir e Henry Miller e Anais Nin, cujas relações foram inspiração para muitos dos casais surgidos pós-Revolução Sexual e Contracultura.
O autor diz que o ponto de partida para seu estudo tem origem na diversidade de acordos, cumplicidades, limites e formas estabelecidas por casais contemporâneos para conduzir suas relações amorosas que atualmente, mais do que nunca, se distancia do formato familiar tradicional do matrimônio civil e religioso, sob as bênçãos dos pais de ambos os cônjuges condenados a amarem-se até a morte, “na saúde e na doença; na alegria e na tristeza”.
Bom, nos dias em que não é mais surpresa para ninguém o declínio do casamento convencional, como instituição sagrada. O próprio autor revela que o livro teve início mais por uma questão pessoal do que por motivação acadêmica. Tentando entender seu próprio relacionamento, a princípio, teria se voltado para a vida destes artistas mais por uma questão pessoal do que acadêmica, confessa o autor. Foi quando percebeu que o material biográfico oficial sobre tais nomes, no que se referia a seus relacionamentos, perdia-se em clichês como o do infant terrible mulherengo e a esposa que, incapaz de lidar com os relacionamentos extraconjugais de seu homem, busca em outras aventuras uma compensação; ou a mesma história do ponto de vista feminino, substituindo o infant terrible por uma femme fatale, no caso. Quando muito, recorriam a justificativas como “eram artistas, cujos modos de vida excêntricos eram reflexos de suas condições”.

O autor preferiu explorar o quanto a maneira como tais casais levaram seus relacionamentos teve impacto na concepção da obra de ambas as partes. Daí a escolha desses nomes; todos eles, casais em que ambos eram artistas consagrados, mantiveram seus relacionamentos abertos e, embora tenham convivido com as conseqüências e desentendimentos, comuns em qualquer forma de relacionamentos – principalmente, quando abertos –, mantiveram-se duradouros.
Apesar do título escolhido para a tradução brasileira não dizer muita coisa – teria sido melhor traduzir literalmente o título original, The Love Lives of The Artists –, Amores Modernos, no mínimo, contribui com as biografias pessoais e criativas de seus personagens, através da perspectiva de seus relacionamentos.

Serviço:
Título: Amores Modernos.
Autor: Daniel Bullen.
Editora: Seoman.

304 páginas.

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