segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Histórias Curiosas da Segunda Guerra Mundial - Livro



Lendas e Curiosidades de um Conflito
Historiador espanhol compila curiosidades fatuais, mitos e lendas da Segunda Guerra Mundial em livro.
Por César Alves

Para muitos, a Segunda Guerra Mundial é apenas o capítulo mais marcante de um conflito iniciado com a explosão da primeira e que, ao contrário do que os livros da história podem nos induzir a acreditar, não teria terminado com a derrota dos países do Eixo, mas prosseguido com a Guerra Fria. Desse ponto de vista, crises bélicas, como a recente tensão na Ucrânia e o – ainda longe de alcançar uma solução pacífica – conflito Israel e Palestina, seriam continuação de um mesmo momento histórico e, dessa forma, teria durado por todo o século passado e ainda continuaria viva, nos dias de hoje.
Teorias históricas a parte, certo é que a Segunda Guerra sempre irá atrair nossa atenção devido ao que tem de monstruoso, heróico, exemplo de superação e do que a humanidade possui de melhor e pior e como tais características afloram e se mostram claras durante momentos de crise.
Talvez, isso explique porque o conflito ainda ser tão presente em nossas vidas e continua sendo assunto inesgotável para livros; tanto factuais quanto ficcionais, filmes; documentários, cinebiografias e pano de fundo para roteiros de aventura, dramas históricos e até comédias. Tanto para aqueles que viveram o período, quanto para os nascidos depois, o último grande confronto global faz parte do inconsciente coletivo de nossa civilização, e continua atraindo atenção pelo impacto causado na ordem geopolítica de seu tempo e que ainda reverbera em nossos dias, pelos fantasmas que deixou e sempre voltam para nos assombrar, por seus protagonistas notórios e sua atuação, mas também pelo que tem de mítico e curioso.
É justamente sobre o lado mítico, lendário e curioso do evento que se debruça o historiador e jornalista espanhol, Jesús Hernández, autor de Historias Curiosas da 2ª. Guerra Mundial, que acaba de ganhar edição brasileira.
Ao contrário de outros livros sobre o tema, o autor aqui passeia por personagens – anônimos e notáveis – que, de uma forma ou outra, estiveram envolvidos, como protagonistas de momentos decisivos ou apenas coadjuvantes, lançados em meio ao furacão bélico por circunstâncias diversas. Trata-se de uma coleção de histórias pouco exploradas como a paixão de Hitler pelo busto de Nefertiti, ao ponto de arriscar perder um aliado e ponto estratégico importante, criando um mal estar com o Egito, ao se recusar a devolver a peça ao Museu do Cairo; o uso do carro de Al Capone por Roosevelt e o papel de mafiosos, como Lucky Luciano, na tomada da Itália, aqui são explorados, revelando o que possuem de lenda e fato.
Apesar de manter a seriedade que o tema merece, a obra oferece uma leitura diferente da maioria dos livros sobre a 2ª. Guerra com os quais estamos acostumados. Sua escrita simples e a narrativa fazem de Historias Curiosas da 2ª. Guerra Mundial excelente leitura tanto para leigos quanto especialistas. Leitura agradável para o leitor comum e também fonte de pesquisa para estudiosos.
Se nada disso despertou a curiosidade, do amigo ou amiga, para conferir o livro, quando se deparar com ele nas prateleiras de sua livraria predileta, talvez, histórias com a descrita abaixo o faça:

Picasso e o Oficial Nazista
Contrariando os conselhos de amigos e colaboradores, Pablo Picasso, um dos muito residentes ilustres de Paris, decidiu que ficaria na França, mesmo depois da invasão alemã, em 1942. A retomada das hostilidades, apesar do armistício assinado por ambas as nações três anos antes, e o conhecido tratamento dado pelas forças nazistas aos que não concordavam com sua doutrina, como era o seu caso, eram motivos mais do que suficientes para que tal atitude fosse vista como ato suicida ou de muita coragem – verdadeira insanidade, para muitos.
Apesar de declarar-se abertamente contrário aos nazistas, o artista, no entanto, foi poupado das perseguições pelo governo invasor, devido à popularidade e o respeito que tinha mundo afora, defendem historiadores. O que não o livrou de ser alvo de vigilância constante. Afinal, embora não tenha chegado a integrar as fileiras da Resistência Francesa, Picasso não escondia seu apoio e era visto como um companheiro de luta pelos que integravam a causa.
Na esperança de convencê-lo a mudar de lado e, assim, poder contar com o apelo propagandístico que seu nome poderia angariar para a popularidade do novo governo, políticos e oficiais alemães tentavam seduzi-lo com mimos, privilégios e presentes – principalmente, material de pintura, muito escasso, devido à guerra. Tais visitas ao ateliê do pintor eram quase diárias, nas quais faziam elogios, reforçavam sua admiração por seu trabalho e pareciam irritar profundamente Picasso.
Numa delas, conta-se que Otto Abetz, embaixador Alemão em Paris, durante a ocupação, teria apontado para a reprodução de uma obra, exposta em uma das paredes, e perguntado:
_ Obra sua, mounsier Picasso?
_ Não. Obra sua!
Respondeu o artista.
Tratava-se de uma reprodução de Guernica, obra-manifesto contra a desumanidade da guerra, pintada por Picasso após o bombardeio sofrido pela cidade basca, em 26 de abril de 1937, perpetrado por forças alemãs.
*.*
Se o diálogo e a situação realmente aconteceram, a história acima é, no mínimo, um deleite, tanto como mito, quanto como fato histórico.

Serviço:
Título: Histórias Curiosas da 2ª. Guerra Mundial
Autor: Jesús Hernández
Editora: Madras
340 páginas



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