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segunda-feira, 14 de março de 2016

Sobre Mitos, Heróis e Deusas - Joseph Campbell



Sobre Mitos, Heróis e Deusas

Joseph Campbell vive nas livrarias brasileiras com a reedição de O Herói de Mil Faces, livro de cabeceira de roteiristas e mitólogos mundo afora, e a publicação de Deusas – Os Mistérios do Divino Feminino e As Transformações do Mito Através dos Tempos.
Por César Alves


Falecido em 1987, Joseph Campbell entrou para a história do século vinte como um dos mais importantes especialistas em mitologia universal, ganhando respeito e notoriedade no meio acadêmico e também no universo da indústria cultural, como o autor predileto de nove entre dez roteiristas de Blockbusters Hollywoodianos, principalmente depois de George Lucas citá-lo como referência na construção de sua saga Star Wars.

Embora sua bibliografia em português esteja longe de ser completa, já que o autor, além de seus trabalhos publicados em vida, deixou, sob os cuidados de instituição que leva o seu nome, uma enorme quantidade de textos, transcrições de palestras e entrevistas, que costumam render obras póstumas, Campbell possui uma boa quantidade de títulos publicados por aqui. A lista acaba de engrossar com a chegada às nossas livrarias de O Herói de Mil Faces, As Transformações do Mito Através dos Tempos e Deusas.

O primeiro, O Herói de Mil Faces (Editora Pensamento), é a reedição de sua obra mais conhecida e que despertou a atenção dos figurões da indústria do entretenimento. Publicado originalmente em 1949, o livro parte do conceito do “Monomito”, no qual é possível identificar pontos em comum e similaridades na estrutura lógica das narrativas antigas sobre diversos personagens míticos, em inúmeras culturas e povos, mesmo que separados na história, tanto no tempo como no espaço. Dos contos de fada e do folclore às narrativas sobre os feitos dos heróis mitológicos clássicos, passando também pelas narrativas bíblicas e livros sagrados das demais religiões, o autor defende que todas representam simultaneamente as várias fases de uma mesma história. Valendo-se da psicologia, estabelece o relacionamento entre seus símbolos intemporais e os símbolos detectados nos sonhos e a interpretação das palavras proferidas por grandes líderes espirituais, como Moisés, Jesus, Maomé, Lao-Tzu e os Anciãos das tribos australianas.
As Transformações do Mito Através do Tempo (Editora Cultrix) compila uma série de treze palestras ministradas por Campbell no final de sua vida que examinam o vasto campo do desenvolvimento da mitologia em todo o mundo e em todas as épocas. Ilustrado com imagens que acompanham as conferências originais, a obra expõe a compreensão de Campbell sobre como o mito reconcilia os seres humanos com os mistérios da vida.
Embora nunca tenha escrito um livro específico sobre as manifestações do divino feminino nas mitologias universais, Joseph Campbell tinha muito a dizer sobre o tema. Tanto que, entre 1972 e 1986 ministrou cerca de 20 palestras dedicadas ao tema que a especialista e editora Safron Rossi reuniu no ótimo Deusas – Os Mistérios do Divino Feminino (Editora Palas Athena). Aqui Joseph Campbell traça a evolução do divino feminino desde a Grande Deusa até as muitas deusas da Antiga Europa do Neolítico até a Renascença. Lança nova luz sobre temas clássicos e revela seus símbolos das energias arquetípicas de transformação, iniciação e inspiração.
Ainda hoje considerado uma das maiores autoridades em mitologia, Joseph Campbell teve seu interesse pelo tema despertado ainda na infância, incentivado por seu pai, que costumava levá-lo ao Museu Americano de História Natural de Nova York, onde, maravilhado, tomou contato com impressionantes coleções antropológicas. Embora tenha começado seus estudos na área da biologia e matemática, dirigiu os seus estudos acadêmicos para a literatura inglesa e literatura medieval, tema de seu mestrado na Universidade de Columbia.
Também é autor das Séries As Máscaras de Deus (Palas Athena) e O Poder do Mito.




Serviço:
Título: O Herói de Mil Faces
Autor: Joseph Campbell
Editora: Pensamento
416 páginas

Título: As Transformações do Mito Através do Tempo
Autor: Joseph Campbell
Editora: Cultrix
264 páginas

Título: Deusas – Os Mistérios do Divino Feminino
Autor: Joseph Campbell
Editora: Palas Athena


terça-feira, 2 de junho de 2015

Linhas de baixo, riffs de palavras e livros de musica - Livros


Linhas de baixo, riffs de palavras e livros de musica

Das memórias de Peter Hook sobre os dias do Joy Division, passando pelo The Cure, ao nascimento da New Wave brasileira, na biografia de um de seus artífices, Kid Vinil, as historias do pós-punk invadem nossas livrarias com o lançamento de ótimos títulos.
Por César Alves

Desde criança, sempre gostei de musica e sempre gostei de histórias, ficcionais ou não e independente da forma como eram contadas. Sendo assim, logo que comecei a ter algum dinheiro, através de bicos e, principalmente, quando passei a ter um salário – miserável, diga-se de passagem –, como Office-boy, por volta dos 14 anos, não é de se estranhar que boa parte de meus gastos pessoais tenham sido na aquisição de discos e livros.
A conversa fiada autobiográfica não é de toda sem sentido. Serve para ilustrar o motivo da empolgação do amigo que vos escreve em relação ao verdadeiro tema deste texto: os mais do que bem vindos livros Unknown Plesures – Joy Division, de Peter Hook, Nunca é o Bastante – A História do The Cure, de Jeff Apter, e Kid Vinil – Um Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani, das editoras Seoman e Edições Ideal – a segunda, responsável pela biografia de Ian Curtis, também citada aqui.

Sobre jovens e o peso em seus ombros

Poucas bandas na história do rock podem ser comparadas ao Velvet Underground no que diz respeito ao culto e o impacto de sua influência sobre as gerações que as seguiram. Dentre elas se inscreve o Joy Division.
Formado em Manchester por quatro garotos da classe operária sob o nome Warsaw – referência a canção Warszawa, faixa do cultuado álbum Low, da não menos cultuada trilogia de Berlim de David Bowie e Brian Eno –, o Joy Division possui tudo o que é preciso para justificar o culto em torno de sua historia: uma produção tão curta quanto impactante, formada por dois álbuns que se tornaram clássicos, Unknown Plesures (1979) e Closer (1980); originalidade musical e lírica marcantes, atitude e, principalmente, uma biografia marcada pela tragédia.
Eram os dias caóticos e sombrios da segunda metade da década de 70 e, influenciados pela fúria sonora verborrágica do punk rock, os amigos de escola Bernard Summer e Peter Hook, respectivamente guitarra e baixo, se uniram ao baterista Stephen Morris e ao cantor e letrista Ian Curtis para dar início à sua própria banda. É justamente na figura de Curtis que se apóia o dado trágico citado no parágrafo anterior.
Suas letras intensas e carregadas de poética e urgência niilista, associadas à sonoridade sombria e clima tenso, marcado, principalmente, pela produção e Martin Hannett, foram essenciais para criar a aura glacial comumente associada à banda. Seu suicídio, pouco antes de sua banda embarcar para uma turnê pelos Estados Unidos, o que poderia dar início a uma promissora carreira internacional, foi mais do que suficiente para completar o mito – não totalmente desprovido de verdade – do gênio atormentado e deprimido que antecipa o outono de sua existência no auge de sua primavera criativa e torná-lo, junto com sua banda, alvo de inúmeros livros e reportagens – algumas boas, outras nem tanto –, explorando tal imagem.
É justamente por confirmar e, ao mesmo tempo, desmitificar tais características – que vieram se tornar verdadeiros clichês, quando se fala de Ian Curtis e do Joy Division –, mas, principalmente, por lançar novos pontos de vista sobre sua trajetória que as duas obras disponíveis agora nas livrarias brasileiras são especiais.
Lançado recentemente pela editora Seoman, o primeiro, Unknown Pleasures – Joy Division, escrito pelo baixista da banda e, mais tarde, junto com os outros sobreviventes, fundador do New Order, Peter Hook, o livro oferece uma visão interna sobre a história, do ponto de vista de quem participou dela desde o início.
Na condução das quatro cordas de seu contrabaixo, passando por palcos de inferninhos, estúdios de gravação e bastidores de shows, Hook protagonizou e ajudou a construir a historia que narra, de forma honesta e leitura agradável, de seu ponto de vista privilegiado. Embora, humildemente, o baixista não se considere o dono da verdade, como diz em vários momentos, sua versão dos fatos é um relato detalhado e apaixonado daqueles dias de quem esteve e consegue colocar o leitor no olho do furacão que foi a trajetória de sua banda. É como um garoto em uma banda que Hook conta sua história sobre quatro amigos conquistando seu espaço no explosivo nos subterrâneos do rock europeu, com descrições detalhadas de cada uma das apresentações, momentos engraçados e até escatológicos, uso abusivo de álcool e drogas, mas principalmente amizade.
Tocando à Distância, de Deborah Curtis, apresenta uma visão mais íntima e pessoal, focada na persona de Ian Curtis, com quem a autora foi casada e teve uma filha. Publicado no Brasil ano passado, o livro é considerado item essencial para compreender seu biografado na intimidade. Narrativa intensa e comovente, contém imagens da vida familiar de Ian Curtis, além de lançar luz sobre os motivos que o levaram a cometer o ato final que marca sua trajetória – um coração dividido entre as glórias e os excessos de um rock star e o pai de família, entre o amor pela esposa e a amante e, para piorar, a saúde comprometida pela epilepsia. O livro foi a base para a cinebiografia, Control, de Anton Corbjin,e traz prefácios de Jon Savage e Kid Vinil. A publicação é da Edições Ideal.

Jumping Someone Else´s Train

Pela mesma editora, acaba de sair também Nunca é o Bastante – A História do The Cure.
A historia do Cure é como a de diversas bandas ao redor do mundo. Começa com garotos inventando formas para vencer o tédio na cidade de Crawley, Sussex, Inglaterra, até alcançar o estrelato como uma das principais bandas do pop britânico da década de 80.
Falar sobre o The Cure é falar sobre Robert Smith, líder e único integrante permanente em todas as diversas formações que a banda teve até os dias de hoje. Apaixonado por rock desde que, ainda na infância, teve contato com os discos dos Beatles e viu uma apresentação de Jimi Hendrix pela tevê, foi através de David Bowie que Smith aprendeu a importância da imagem para a construção estética de um artista. Lição que seguiria à risca desde o início da banda que formaria com os amigos, sob a inspiração do Punk e do pós-punk em meados dos anos 70.
Também autor de uma biografia sobre os Red Hot Chilli Peppers, o australiano Jeff Apter fez uma série de entrevistas com os integrantes do Cure e seu líder para construir um relato detalhado de sua história em suas diversas fases, disco a disco, turnê a turnê, incluindo suas passagens pelo Brasil, resultando numa obra, no mínimo, indispensável, para fãs ou não.

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O Herói do Brasil

“Na hora do almoço a minha fome é de leão. Abro a marmita e o que vejo, feijão. Chega o fim do mês, com toda aquele euforia. Todos ganham bem e eu aquela micharia”. Nos anos de minha primeira infância, assim como todos os garotos da época, sabia cantar de cor a letra desse sucesso das rádios e programas de auditório, mas só alguns anos depois, quando comecei a trabalhar – e aqui está o link com o parágrafo que abre este texto, é que fui entender de verdade do que falava a musica interpretada por Kid Vinil, à frente de seu Magazine.
Não só como cantor do Magazine, mas também como líder dos Heróis do Brasil, Antonio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, fez sucesso da década de oitenta com outros sucessos, como Tic, Tic, Nervoso, mas seu papel na construção do rock brasileiro de sua geração e para as gerações vindouras vai muito além disso, como o leitor pode conferir na biografia autorizada Kid Vinil, O Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani.
De auxiliar de Departamento Pessoal a executivo da gravadora Continental, passando pelo início do punk brasileiro, como vocalista do Verminose, os sucessos nacionais citados acima e o processo hercúleo para trazer aos ouvintes e fãs de musica o que se passava no universo da musica pop internacional, tanto como radialista como apresentador de tevê, a vida de Kid Vinil, que se confunde com a do próprio pop brasileiro, é aqui narrada de forma leve e divertida, contando com depoimento do próprio biografado, familiares, parceiros e gente como Fabio Massari, Fernando Naporano e outros dos que o ajudaram a construir essa historia.

Serviço:

Livros:
Título: Unknown Pleasures – Joy Division
Autor: Peter Hook
Editora: Seoman
392 páginas

Título: Tocando a Distância
Autor: Deborah Curtis
Editora: Edições Ideal
328 páginas

Título: Nunca é o Bastante – A História do The Cure
Autor: Jeff Apter
Editora: Edições Ideal
336 páginas

Título: Kid Vinil – O Herói do Brasil
Autor: Ricardo Gozzi e Duca Belintani
Editora Edições Ideal

160 páginas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cinco Relacionamentos Abertos que Revolucionaram as Artes (Livro)



A Vida Amorosa dos Artistas

Cinco casais, formados por artistas consagrados e notórios em suas épocas, cujas relações abertas desafiaram as convenções matrimoniais vigentes e revolucionaram as artes e comportamento, são estudados em livro.
Por César Alves


Lou-Andreas Salomé, não dava muito crédito ao talento de seu jovem amante e aspirante a poeta, quando – aos 36 anos, casada e com o consentimento do marido – deu início ao caso com o ainda desconhecido e muito mais jovem, Rainer Maria Rilke. Na época a bela, inteligente e libertária Salomé já havia sido a terceira parte de uma tríade sexual e amorosa, cujos outros dois amantes célebres eram o filósofo Friedrich Nietzsche e Paul Reé e escandalizava a sociedade de sua época com seus escritos e idéias de mulher a frente de seu tempo – rezam as más línguas que o filósofo do martelo teria saído da relação aos pedaços, Salomé foi a Lilith que destroçou o coração do “homem que matou Deus”.
Mais madura e com uma carreira e trajetória definida, mesmo Salomé, talvez não pudesse imaginar que aquele relacionamento iria ultrapassar o ardor da alcova, evoluindo para uma parceria amorosa e criativa, num matrimônio que refletiria nas obras de ambos. Um casamento que desafiaria as convenções. Artisticamente, íntimo e limitado a cumplicidade do casal, e, do ponto de vista sexual, aberto a diversos parceiros, com o conhecimento e consentimento de ambos.
Esta e outras histórias de cinco casais avant-la-lettré, todos formados por artistas e intelectuais respeitados, cujos relacionamentos desafiaram as convenções e puseram em dúvida a sacralidade do casamento, fazem parte do fascinante e delicioso Amores Modernos, livro de Daniel Bullen que acaba de chegar às livrarias brasileiras pela editora Seoman.

A obra estuda as relações de Lou Salomé e Rainer Rilke; Georgia O´Kieffe e Alfred Ztieglitz; Frida Khalo e Digo Rivera; Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir e Henry Miller e Anais Nin, analisando o reflexo que a maneira por eles escolhida para conduzir suas vidas, tanto afetiva, quanto íntima, teve sobre suas obras e até que ponto tais artistas e seus modos de vida estavam à frente de seu tempo e em sintonia com o comportamento amoroso de casais contemporâneos – principalmente nos casos de Sartre e Beauvoir e Henry Miller e Anais Nin, cujas relações foram inspiração para muitos dos casais surgidos pós-Revolução Sexual e Contracultura.
O autor diz que o ponto de partida para seu estudo tem origem na diversidade de acordos, cumplicidades, limites e formas estabelecidas por casais contemporâneos para conduzir suas relações amorosas que atualmente, mais do que nunca, se distancia do formato familiar tradicional do matrimônio civil e religioso, sob as bênçãos dos pais de ambos os cônjuges condenados a amarem-se até a morte, “na saúde e na doença; na alegria e na tristeza”.
Bom, nos dias em que não é mais surpresa para ninguém o declínio do casamento convencional, como instituição sagrada. O próprio autor revela que o livro teve início mais por uma questão pessoal do que por motivação acadêmica. Tentando entender seu próprio relacionamento, a princípio, teria se voltado para a vida destes artistas mais por uma questão pessoal do que acadêmica, confessa o autor. Foi quando percebeu que o material biográfico oficial sobre tais nomes, no que se referia a seus relacionamentos, perdia-se em clichês como o do infant terrible mulherengo e a esposa que, incapaz de lidar com os relacionamentos extraconjugais de seu homem, busca em outras aventuras uma compensação; ou a mesma história do ponto de vista feminino, substituindo o infant terrible por uma femme fatale, no caso. Quando muito, recorriam a justificativas como “eram artistas, cujos modos de vida excêntricos eram reflexos de suas condições”.

O autor preferiu explorar o quanto a maneira como tais casais levaram seus relacionamentos teve impacto na concepção da obra de ambas as partes. Daí a escolha desses nomes; todos eles, casais em que ambos eram artistas consagrados, mantiveram seus relacionamentos abertos e, embora tenham convivido com as conseqüências e desentendimentos, comuns em qualquer forma de relacionamentos – principalmente, quando abertos –, mantiveram-se duradouros.
Apesar do título escolhido para a tradução brasileira não dizer muita coisa – teria sido melhor traduzir literalmente o título original, The Love Lives of The Artists –, Amores Modernos, no mínimo, contribui com as biografias pessoais e criativas de seus personagens, através da perspectiva de seus relacionamentos.

Serviço:
Título: Amores Modernos.
Autor: Daniel Bullen.
Editora: Seoman.

304 páginas.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Cinema no Divã - A Psicologia Vai ao Cinema (livro)




O Cinema no Divã
Por César Alves

A Psicologia Vai ao Cinema, de Skip Dine Young, explora os aspectos psicológicos da Sétima Arte.

Em 1976, Travis Bickle ganhou a atenção do público norte-americano e do mundo, promovendo um verdadeiro banho de sangue para salvar uma adolescente do submundo na decadente Nova Iorque.
Cinco anos depois, John Hinckley Jr. também chamou a atenção do mesmo público, ganhando a atenção dos noticiários, com sua tentativa de assassinar o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, resultando em não menos violência.
Embora o objetivo de matar o chefe de estado americano tenha fracassado, o atentado terminou com várias pessoas feridas e Reagan atingido, sendo levado às pressas para um hospital, o que o salvou de se tornar parte da longa lista de presidentes assassinados em pleno exercício de mandato daquele país.
Ao contrário de Hinckley, Travis Bickle não pertence ao mundo real. Personagem interpretado pelo, então, jovem e promissor Robert de Niro, Bickle pertence ao imaginário cinematográfico do consagrado diretor Martin Scorsese. Seus atos, embora nada distantes da realidade urbana das grandes cidades – tanto naquela época quanto hoje em dia –, eram parte da trama roteirizada para o, ainda hoje, cultuado longa metragem que catapultou definitivamente, tanto De Niro quanto Scorsese, ao lugar que hoje ocupam entre os grandes nomes de Hollywood, Taxi Driver.
Apesar disso, embora separados pela linha – muito mais tênue do que imaginamos – que separa a realidade da ficção, Travis Bickle e John Hinckley estão conectados de forma assustadora.
Fã da película de Scorsese, ele teria assistido ao filme quinze vezes, enquanto se preparava para dar início aos seus planos. Como se não bastasse, soube-se depois que as intenções de Hinckley não tinham exatamente uma motivação política.
Ao contrário do que poderiam supor os Serviços de Inteligência, a tentativa de tirar a vida de Reagan não estava ligada a um grupo radical insatisfeito com a forma como o país vinha sendo conduzido pela gestão Reagan. Hinckley agira sozinho e não tinha nada contra o presidente. Seu intuito, na verdade, seria, através do atentado, chamar a atenção de Jodie Foster, por quem o atirador sofria de uma paixão doentia e platônica. A mesma atriz que interpretava a adolescente salva por Bickle, De Niro, no filme.
A história é o ponto de partida do livro A Psicologia Vai ao Cinema (Psychology at the Movies, título original), de Skip Dine Young, que acaba de chegar às livrarias brasileiras pela editora Cultrix.
Não pense o leitor, no entanto, tratar-se de mais uma defesa teórica tresloucada, acusando a indústria cultural de influenciar e incentivar a violência, como o caso citado na abertura do texto pode sugerir. A obra faz um estudo da Sétima arte através de seus aspectos psicológicos e, analisando títulos, autores e público, revela que as neuroses cinematográficas, na verdade, refletem a neurose daqueles que as concebem, interpretam e consomem do que o contrário.
Ph.D em Psicologia e professor da Universidade de Hanover, em Indiana, Stephen “Skip” Dine Young possui duas outra obsessões, além da área em que atua profissionalmente: a musica de Bob Dylan e o Cinema. Sua pesquisa teve como foco o cinema narrativo, tanto produções consagradas por suas qualidades técnicas, estéticas e tidas como verdadeiras obras de arte, divisoras de águas no segmento, quanto blockbusters comerciais e títulos B de horror e ficção-científica. Para tanto, assistiu a diversas sessões de centenas de filmes que vão de obras como Psicose a Cisne Negro, passando por Persona, de Bergman, e a trilogia Star Wars de George Lucas e os mega-sucessos de Steven Spielberg.
Mas o livro não se limita a analise dos filmes e seu impacto sobre o público. O autor também se debruça sobre o perfil psicológico e a formação biográfica de seus realizadores, como Alfred Hitchcock e Woody Allen, entre outros.
Carregados – em maior ou menor grau – do drama que marca a condição humana, filmes transbordam psicologia. Talvez não seja a toa que tanto o cinema, como arte e depois entretenimento, quanto a psicologia e psicanálise, como ciência, tenham surgido praticamente juntos em fins do século dezenove e tenham ambas tido tanto impacto cultural na década seguinte, como defende o autor.
Sendo assim, o livro de Young não é exatamente uma novidade. Desde 1916, com a publicação de The Photoplay: A Psychological Study, de Hugo Munsterberg, estudos sobre Cinema e Psicologia são escritos. O lançamento, no entanto, não traz mais do mesmo. Bem escrito e de fácil leitura, suas analises, tanto do conteúdo narrativo, quanto aos recursos estéticos utilizados para expor os aspectos psicológicos da trama ao espectador, revelam que A Psicologia Vai ao Cinema vem para somar e enriquecer as prateleiras sobre o assunto, que ainda deve render muito.

Serviço:
Título: A Psicologia Vai ao Cinema
Autor: Skip Dine Young
Editora: Cultrix
Número de Páginas: 256