Bob Dylan e Greil Marcus
Menos disponível nas
prateleiras brasileiras do que sua prosa merece, Greil Marcus se inscreve entre
os cronistas do universo musical predileto deste que vos escreve.
Por César Alves
Nascido em 1945, Greil Marcus presenciou – às
vezes in loco – momentos que
redefiniram a musica contemporânea, trabalhando para veículos como Rolling
Stone, Creem e Village Voice. Alguns de seus livros, como “Mystery train”
(1975) são considerados revolucionários na forma de se fazer crítica de rock.
Marcus não acredita no hype e, quando segue uma pauta, vai além do objeto
estudado considerando fenômenos sociais e seu contexto histórico.
Daí que seus textos podem citar heréticos
medievais, o Dada (é sempre bom lembrar que não existe dadaísmo e, se você não
concorda, você é Dada!) e os Situacionistas para chegar ao punk. Infelizmente
no Brasil seus livros não são publicados com frequência. Que eu saiba, saiu por
aqui apenas a coletânea “A última transmissão”, parte da ótima coleção iêiêiê
da Conrad Books (que saudades dessa editora!), cuja reportagem sobre o novo
punk (Pós-punk, se preferir), representado por bandas como o Gang of Four e o,
ainda iniciante, selo Rough Trade é exemplo do que escrevi acima.
Agora chega às nossas livrarias “Like a Rolling
Stone: Bob Dylan na Encruzilhada”, lançamento da Companhia das Letras. Aqui,
Marcus debruça-se sobre a histórica gravação de mister Robert Zimmermann de
“Like a Rolling Stone”, canção que abre o álbum histórico “Highway 61
Revisited”. O jornalista teve acesso às sessões de gravações do clássico,
ocorridas em 15 de junho de 1965, período conturbado na carreira do artista.
Dylan vinha de sua estréia com instrumentos elétricos, ocorrida no álbum
anterior “Bringing it all back home”, e suas apresentações normalmente
culminavam com gritos de “Judas!” vindo da platéia mais purista, que o havia
alçado a posto de seu porta-voz – só não perguntaram antes se ele aceitava o
cargo.
A verdade é que “Like a Rolling Stone”
representa uma virada no conceito criativo do rock. A partir dali, o rock, que
também havia influenciado Dylan para sua guinada elétrica, começa a abandonar
os temas leves e pode-se dizer que só a partir dai ganha status de arte.
Marcus, no entanto, não se fecha numa biografia da música, fazendo uma análise
da importância de Dylan através dos artistas que influenciou e o fato de sua
obra ainda ser relevante nos dias de hoje.
Curiosidade: Os teclados, que são uma das
marcas da canção são tocados pelo lendário guitarrista Al Kooper. A verdade é
que Kooper nunca havia tocado um instrumento de teclas antes – pelo menos é o
que reza a lenda – e o que está ali é o guitarrista “tentando” fazê-lo.
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