Hey That´s no Way to Say Goodbye
Por César Alves
“Bird on a wire”,
filme de Tony Palmer, registra a turnê de mesmo nome realizada por Leonard
Cohen em 1972. Como é de conhecimento geral, Cohen já vinha de uma carreira
internacional bem sucedida, como poeta e escritor.
Embora tenha
participado de uma banda country ainda na adolescência, sua incursão na música
aconteceu quase que por acidente, após Judy Collins gravar duas de suas composições. Sua participação no
Newport Folk Festival de 1966, abriu os olhos do produtor John Hammond, que já
tinha no currículo Aretha Franklin, Billie Holliday e Bob Dylan entre outros, e
convidou o canadense para gravar um álbum. O resultado foi a obra – de lirismo
e importância incontestáveis – “Songs of Leonard Cohen” de 1968. Com os discos,
vêm também as apresentações ao vivo e turnês. É ai que a coisa se complica.
Como muitos de seus pares, Cohen também sofre da timidez característica da
maioria dos gênios. O artista nunca escondeu seu desconforto diante de uma
grande audiência.
É notório que Cohen
sofre de depressão desde os nove anos. Idade que tinha na época do falecimento
de seu pai. E isto, em parte, explica os grandes períodos de reclusão por que
sua trajetória vez ou outra passou. É justamente esta faceta do artista que
fica clara em um dos momentos mais tensos e também belos da turnê de 72. Cohen
tenta em vão introduzir os primeiros acordes de uma de suas mais lindas canções
“Bird on a wire”, mas é sempre interrompido pelos aplausos e gritos de
reverência da platéia. Ele chega a pedir que as pessoas não aplaudam, mas
levantem as mãos para demonstrar que reconhecem e gostam da música, mas é em
vão.
Extremamente
constrangido e irritado, ele se levanta e abandona o palco quase lembrando
momentos de nosso João Gilberto. Nos bastidores, os organizadores e parte de
seu entourage tenta convencê-lo a voltar e obtêm do artista respostas como:
“...eu não posso”, “...não consigo mais fazer isto”. Fica claro que não se
trata de “frescura” de artista, mas sim do estranhamento natural de quem não se
sente parte daquilo. A platéia, então, começa a entoar o cântico “hevenu shalom
alechem”.
É ai que a poesia se
manifesta como que arquitetada pelo acaso. Está no sorriso constrangido e na
timidez quase infantil de Cohen – na época um garoto de quase quarenta anos –,
está naqueles quatro ou cinco integrantes da platéia que se esquecem do motivo
da confusão e arriscam aplausos também tímidos e também no silêncio do público
quando o artista volta ao palco para tocar “Hey, that´s no way to say goodbye”,
quase como um pedido de desculpas. Mas está, principalmente, no olhar da garota
que olha hipnotizada para o palco. Estaria ela pensando num jeito de dizer
adeus a alguém? Acho que não existe uma maneira correta para se dizer adeus. Principalmente,
quando ainda não queremos partir...
(César Alves, 24 de
Maio de 2010)
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