Linhas de baixo, riffs de palavras e livros de musica
Das memórias de Peter
Hook sobre os dias do Joy Division, passando pelo The Cure, ao nascimento da
New Wave brasileira, na biografia de um de seus artífices, Kid Vinil, as
historias do pós-punk invadem nossas livrarias com o lançamento de ótimos
títulos.
Por César Alves
Desde criança, sempre gostei de musica e sempre
gostei de histórias, ficcionais ou não e independente da forma como eram
contadas. Sendo assim, logo que comecei a ter algum dinheiro, através de bicos e,
principalmente, quando passei a ter um salário – miserável, diga-se de passagem
–, como Office-boy, por volta dos 14 anos, não é de se estranhar que boa parte
de meus gastos pessoais tenham sido na aquisição de discos e livros.
A conversa fiada autobiográfica não é de toda
sem sentido. Serve para ilustrar o motivo da empolgação do amigo que vos
escreve em relação ao verdadeiro tema deste texto: os mais do que bem vindos
livros Unknown Plesures – Joy Division, de Peter Hook, Nunca
é o Bastante – A História do The Cure, de Jeff Apter, e Kid
Vinil – Um Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani, das
editoras Seoman e Edições Ideal – a segunda, responsável pela biografia de Ian
Curtis, também citada aqui.
Sobre jovens e o peso
em seus ombros
Poucas bandas na história do rock podem ser
comparadas ao Velvet Underground no que diz respeito ao culto e o impacto de
sua influência sobre as gerações que as seguiram. Dentre elas se inscreve o Joy
Division.
Formado em Manchester por quatro garotos da
classe operária sob o nome Warsaw – referência a canção Warszawa, faixa do cultuado álbum Low, da não menos cultuada trilogia de Berlim de David Bowie e
Brian Eno –, o Joy Division possui tudo o que é preciso para justificar o culto
em torno de sua historia: uma produção tão curta quanto impactante, formada por
dois álbuns que se tornaram clássicos, Unknown
Plesures (1979) e Closer (1980);
originalidade musical e lírica marcantes, atitude e, principalmente, uma
biografia marcada pela tragédia.
Eram os dias caóticos e sombrios da segunda
metade da década de 70 e, influenciados pela fúria sonora verborrágica do punk
rock, os amigos de escola Bernard Summer e Peter Hook, respectivamente guitarra
e baixo, se uniram ao baterista Stephen Morris e ao cantor e letrista Ian
Curtis para dar início à sua própria banda. É justamente na figura de Curtis
que se apóia o dado trágico citado no parágrafo anterior.
Suas letras intensas e carregadas de poética e
urgência niilista, associadas à sonoridade sombria e clima tenso, marcado,
principalmente, pela produção e Martin Hannett, foram essenciais para criar a
aura glacial comumente associada à banda. Seu suicídio, pouco antes de sua
banda embarcar para uma turnê pelos Estados Unidos, o que poderia dar início a
uma promissora carreira internacional, foi mais do que suficiente para
completar o mito – não totalmente desprovido de verdade – do gênio atormentado
e deprimido que antecipa o outono de sua existência no auge de sua primavera
criativa e torná-lo, junto com sua banda, alvo de inúmeros livros e reportagens
– algumas boas, outras nem tanto –, explorando tal imagem.
É justamente por confirmar e, ao mesmo tempo,
desmitificar tais características – que vieram se tornar verdadeiros clichês,
quando se fala de Ian Curtis e do Joy Division –, mas, principalmente, por
lançar novos pontos de vista sobre sua trajetória que as duas obras disponíveis
agora nas livrarias brasileiras são especiais.
Lançado recentemente pela editora Seoman, o
primeiro, Unknown Pleasures – Joy
Division, escrito pelo baixista da banda e, mais tarde, junto com os outros
sobreviventes, fundador do New Order, Peter Hook, o livro oferece uma visão
interna sobre a história, do ponto de vista de quem participou dela desde o
início.
Na condução das quatro cordas de seu
contrabaixo, passando por palcos de inferninhos, estúdios de gravação e
bastidores de shows, Hook protagonizou e ajudou a construir a historia que
narra, de forma honesta e leitura agradável, de seu ponto de vista
privilegiado. Embora, humildemente, o baixista não se considere o dono da
verdade, como diz em vários momentos, sua versão dos fatos é um relato
detalhado e apaixonado daqueles dias de quem esteve e consegue colocar o leitor
no olho do furacão que foi a trajetória de sua banda. É como um garoto em uma
banda que Hook conta sua história sobre quatro amigos conquistando seu espaço
no explosivo nos subterrâneos do rock europeu, com descrições detalhadas de
cada uma das apresentações, momentos engraçados e até escatológicos, uso
abusivo de álcool e drogas, mas principalmente amizade.
Já Tocando
à Distância, de Deborah Curtis, apresenta uma visão mais íntima e pessoal,
focada na persona de Ian Curtis, com quem a autora foi casada e teve uma filha.
Publicado no Brasil ano passado, o livro é considerado item essencial para
compreender seu biografado na intimidade. Narrativa intensa e comovente, contém
imagens da vida familiar de Ian Curtis, além de lançar luz sobre os motivos que
o levaram a cometer o ato final que marca sua trajetória – um coração dividido
entre as glórias e os excessos de um rock star e o pai de família, entre o amor
pela esposa e a amante e, para piorar, a saúde comprometida pela epilepsia. O
livro foi a base para a cinebiografia, Control,
de Anton Corbjin,e traz prefácios de Jon Savage e Kid Vinil. A publicação é da Edições
Ideal.
Jumping Someone Else´s
Train
Pela mesma editora, acaba de sair também Nunca é o Bastante – A História do The Cure.
A historia do Cure é como a de diversas bandas
ao redor do mundo. Começa com garotos inventando formas para vencer o tédio na
cidade de Crawley, Sussex, Inglaterra, até alcançar o estrelato como uma das
principais bandas do pop britânico da década de 80.
Falar sobre o The Cure é falar sobre Robert
Smith, líder e único integrante permanente em todas as diversas formações que a
banda teve até os dias de hoje. Apaixonado por rock desde que, ainda na
infância, teve contato com os discos dos Beatles e viu uma apresentação de Jimi
Hendrix pela tevê, foi através de David Bowie que Smith aprendeu a importância
da imagem para a construção estética de um artista. Lição que seguiria à risca
desde o início da banda que formaria com os amigos, sob a inspiração do Punk e
do pós-punk em meados dos anos 70.
Também autor de uma biografia sobre os Red Hot
Chilli Peppers, o australiano Jeff Apter fez uma série de entrevistas com os
integrantes do Cure e seu líder para construir um relato detalhado de sua história
em suas diversas fases, disco a disco, turnê a turnê, incluindo suas passagens
pelo Brasil, resultando numa obra, no mínimo, indispensável, para fãs ou não.
Adicionar legenda |
O Herói do Brasil
“Na hora do almoço a
minha fome é de leão. Abro a marmita e o que vejo, feijão. Chega o fim do mês,
com toda aquele euforia. Todos ganham bem e eu aquela micharia”. Nos anos de minha primeira
infância, assim como todos os garotos da época, sabia cantar de cor a letra
desse sucesso das rádios e programas de auditório, mas só alguns anos depois,
quando comecei a trabalhar – e aqui está o link com o parágrafo que abre este
texto, é que fui entender de verdade do que falava a musica interpretada por
Kid Vinil, à frente de seu Magazine.
Não só como cantor do Magazine, mas também como
líder dos Heróis do Brasil, Antonio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, fez sucesso
da década de oitenta com outros sucessos, como Tic, Tic, Nervoso, mas seu papel
na construção do rock brasileiro de sua geração e para as gerações vindouras
vai muito além disso, como o leitor pode conferir na biografia autorizada Kid
Vinil, O Herói do Brasil, de Ricardo Gozzi e Duca Belintani.
De auxiliar de Departamento Pessoal a executivo
da gravadora Continental, passando pelo início do punk brasileiro, como
vocalista do Verminose, os sucessos nacionais citados acima e o processo
hercúleo para trazer aos ouvintes e fãs de musica o que se passava no universo
da musica pop internacional, tanto como radialista como apresentador de tevê, a
vida de Kid Vinil, que se confunde com a do próprio pop brasileiro, é aqui
narrada de forma leve e divertida, contando com depoimento do próprio
biografado, familiares, parceiros e gente como Fabio Massari, Fernando Naporano
e outros dos que o ajudaram a construir essa historia.
Serviço:
Livros:
Título: Unknown
Pleasures – Joy Division
Autor: Peter Hook
Editora: Seoman
392 páginas
Título: Tocando a
Distância
Autor: Deborah Curtis
Editora: Edições Ideal
328 páginas
Título: Nunca é o
Bastante – A História do The Cure
Autor: Jeff Apter
Editora: Edições Ideal
336 páginas
Título: Kid Vinil – O Herói
do Brasil
Autor: Ricardo Gozzi e
Duca Belintani
Editora Edições Ideal
160 páginas
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