segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Ficção Científica no Cinema Brasileiro (Livro)



Arquivo-B, a Ficção-científica no Cinema Brasileiro

Atmosfera Rarefeita, de Alfredo Suppia, promove uma jornada ao quase desconhecido universo do cinema de ficção-científica praticado no Brasil.
Por César Alves

De tão incorporado a nossa vida cotidiana, nem parece que, quando surgiu, o cinema era feito algo saído da ficção científica. Assim como poucos gêneros literários parecem ter sido feitos sob medida para o que viria a ser chamado de linguagem cinematográfica – muito antes de ela sequer existir, como é característico do estilo – quanto o explorado por mestres como Julio Verne, H.G. Wells, Phillip K. Dick, Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Robert Heinlein, Ray Bradbury e etc, de uma lista imensa demais para citar todo mundo.
Dos experimentos visuais e colagens dos efeitos especiais avant la lettre de Georges Meliés, que resultaram em obras memoráveis como Viagem à Lua (1902), passando pelos B-movies de Ed Wood, 2001: Uma Odisséia no Espaço, Blade Runner, Alien, o Oitavo Passageiro, os mega-orçamentos e bilheterias de Steven Spielberg até chegarmos aos recentes Avatar, Eu, Robô e outros, a parceria Cinema e FC parece longe de chegar ao fim.
Além da industria de Hollywood, a ficção-científica aparece no cinema russo, alemão – Metrópolis (1927), de Fritz Lang é um marco –, japonês, entre outros; se você acha que Truffaut atuando em Contatos Imediatos do Terceiro Grau é o mais perto que a Novelle Vague esteve do gênero, lembre-se de Alphaville (1965) de Godard e a lista segue adiante.
“E no Brasil?” Pode estar se perguntando o amigo leitor ao que respondo com a sugestão de uma leitura, tão agradável quanto obrigatória, de Atmosfera Rarefeita – A Ficção Científica no Cinema Brasileiro, de Alfredo Suppia, publicado pela editora Devir.
“Minha entrada no cinema não foi planejada. Na verdade, comprei minha primeira câmera para ver se conseguia filmar um disco voador”, confessou-me mais de uma vez Ozualdo Candeias, responsável por obras emblemáticas de nosso áudio visual, como A Margem (1967).
Apesar de nunca ter realizado um Sci-Fi Rural, infelizmente, o fato de Candeias ter passado de caminhoneiro à cineasta por influência dos aliens é simbólico sobre o quanto nós fomos feitos para o gênero. Convenhamos, esse país parece coisa de outro planeta e chega a ser imperdoável que a trama de um filme como Distrito 9, não tenha sido pensada por um cineasta brasileiro. Como não poderia deixar de ser, nossa aventura cinematográfica está cheia de visitas de óvnis, viagens no tempo, cientistas loucos e suas experiências catastróficas ou cômicas, desde o início.
Já em 1908, descrita como “fita cômico phantastica”, a comédia Duelo de Cozinheiras, de Antonio Leal, já trazia características do gênero. Mas é no ano de 1947, com a estréia de Uma Aventura aos 40, de Silveira Sampaio, que um longa ousaria imaginar o mundo do futuro, imaginando o Brasil no distante ano de 1975. A partir daí marcianos desfilaram na avenida em Carnaval em Marte (1954), de Watson Macedo; Carlos Manga introduziu a guerra pela supremacia tecnológica da Guerra Fria em O Homem do Sputnik (1959), cientistas brasileiros promoveram a conquista da lua em Os Cosmonautas (1962), de Victor Lima; e até Nelson Pereira dos Santos flertou com o futuro apocalíptico zumbi de George Romero em Quem é Beta (1973).
Didi, Dedé, Mussum e Zacarias foram ao “Planalto” dos Macacos e lutaram na Guerra dos Planetas e, de sátiras eróticas como O ETesão (1988) até sucessos recentes como O Homem do Futuro (2011) o cinema brasileiro produziu tanta ficção científica quanto as curvas futuristas de Niemeyer poderiam sugerir.
Membro da Sociedade Brasileira para Estudos do Cinema e do Audiovisual, professor na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), autor de diversos textos sobre cinema e fundador da Zanzalá, primeira revista acadêmica dedicada ao estudo de ficção científica e fantasia do Brasil (http://www.ufjf.br/lefcav/revista-zanzala), Alfredo Suppia nos oferece um excelente estudo que vai além da pesquisa histórica e avaliação crítica, resultando numa obra única e indispensável.


Serviço:
Título: Atmosfera Rarefeita – A Ficção Científica no Cinema Brasileiro
Autor: Alfredo Suppia
Editora: Devir
400 páginas



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