Arquivo-B, a Ficção-científica
no Cinema Brasileiro
Atmosfera Rarefeita,
de Alfredo Suppia, promove uma jornada ao quase desconhecido universo do cinema
de ficção-científica praticado no Brasil.
Por César Alves
De tão incorporado a nossa vida cotidiana, nem
parece que, quando surgiu, o cinema era feito algo saído da ficção científica.
Assim como poucos gêneros literários parecem ter sido feitos sob medida para o
que viria a ser chamado de linguagem cinematográfica – muito antes de ela sequer
existir, como é característico do estilo – quanto o explorado por mestres como
Julio Verne, H.G. Wells, Phillip K. Dick, Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Robert Heinlein, Ray
Bradbury e etc, de uma lista imensa demais para citar todo mundo.
Dos experimentos visuais e colagens dos efeitos
especiais avant la lettre de Georges
Meliés, que resultaram em obras memoráveis como Viagem à Lua (1902), passando pelos B-movies de Ed Wood, 2001:
Uma Odisséia no Espaço, Blade Runner,
Alien, o Oitavo Passageiro, os mega-orçamentos
e bilheterias de Steven Spielberg até chegarmos aos recentes Avatar, Eu, Robô e outros, a parceria Cinema e FC parece longe de chegar ao
fim.
Além da industria de Hollywood, a
ficção-científica aparece no cinema russo, alemão – Metrópolis (1927), de Fritz Lang é um marco –, japonês, entre
outros; se você acha que Truffaut atuando em Contatos Imediatos do Terceiro
Grau é o mais perto que a Novelle Vague
esteve do gênero, lembre-se de Alphaville
(1965) de Godard e a lista segue adiante.
“E no Brasil?” Pode estar se perguntando o
amigo leitor ao que respondo com a sugestão de uma leitura, tão agradável
quanto obrigatória, de Atmosfera
Rarefeita – A Ficção Científica no Cinema Brasileiro, de Alfredo Suppia,
publicado pela editora Devir.
“Minha entrada no cinema não foi planejada. Na
verdade, comprei minha primeira câmera para ver se conseguia filmar um disco
voador”, confessou-me mais de uma vez Ozualdo Candeias, responsável por obras emblemáticas
de nosso áudio visual, como A Margem
(1967).
Apesar de nunca ter realizado um Sci-Fi Rural, infelizmente, o fato de
Candeias ter passado de caminhoneiro à cineasta por influência dos aliens é simbólico sobre o quanto nós
fomos feitos para o gênero. Convenhamos, esse país parece coisa de outro
planeta e chega a ser imperdoável que a trama de um filme como Distrito 9, não tenha sido pensada por
um cineasta brasileiro. Como não poderia deixar de ser, nossa aventura
cinematográfica está cheia de visitas de óvnis, viagens no tempo, cientistas
loucos e suas experiências catastróficas ou cômicas, desde o início.
Já em 1908, descrita como “fita cômico
phantastica”, a comédia Duelo de Cozinheiras, de Antonio Leal, já trazia características
do gênero. Mas é no ano de 1947, com a estréia de Uma Aventura aos 40, de Silveira
Sampaio, que um longa ousaria imaginar o mundo do futuro, imaginando o Brasil
no distante ano de 1975. A partir daí marcianos desfilaram na avenida em
Carnaval em Marte (1954), de Watson Macedo; Carlos Manga introduziu a guerra
pela supremacia tecnológica da Guerra Fria em O Homem do Sputnik (1959),
cientistas brasileiros promoveram a conquista da lua em Os Cosmonautas (1962),
de Victor Lima; e até Nelson Pereira dos Santos flertou com o futuro
apocalíptico zumbi de George Romero em Quem é Beta (1973).
Didi, Dedé, Mussum e Zacarias foram ao “Planalto”
dos Macacos e lutaram na Guerra dos Planetas e, de sátiras eróticas como O ETesão (1988) até sucessos recentes
como O Homem do Futuro (2011) o
cinema brasileiro produziu tanta ficção científica quanto as curvas futuristas
de Niemeyer poderiam sugerir.
Membro da Sociedade Brasileira para Estudos do
Cinema e do Audiovisual, professor na Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), autor de diversos textos sobre cinema e fundador da Zanzalá, primeira
revista acadêmica dedicada ao estudo de ficção científica e fantasia do Brasil (http://www.ufjf.br/lefcav/revista-zanzala),
Alfredo Suppia nos oferece um excelente estudo que vai além da pesquisa
histórica e avaliação crítica, resultando numa obra única e indispensável.
Serviço:
Título: Atmosfera
Rarefeita – A Ficção Científica no Cinema Brasileiro
Autor: Alfredo Suppia
Editora: Devir
400 páginas
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