América de Todas as Cores
Provavelmente, mais
conhecido no Brasil pelas capas de discos de artistas como Big Star e Primal Scream,
maior exposição individual já realizada de William Eggleston, A Cor Americana, é exibida no Instituto
Moreira Salles.
Por César Alves
Meu primeiro contato com a fotografia de
William Eggleston se deu atravéss da musica. Eggleston é responsável pelas
imagens que ilustram a embalagem de diversos álbuns que fizeram minha trilha
sonora pessoal – entre suas capas mais famosas, estão a de Radio City (1974), do Big Star, e Give Out But Don´t Give Up (1994), do Primal Scream. Desde que seu
admirador e amigo, Alex Chilton, utilizou uma de suas imagens icônicas para
ilustrar a capa do cultuado segundo disco de sua não menos cultuada banda, suas
fotos apareceram em tantas outras que muitos o consideram The King of the Album Cover Photo. Não deixa de ser uma verdade,
mas limitar seu trabalho a isso é também reducionismo. Sua fotografia é muito
mais, como atesta a exposição William
Eggleston, a Cor Americana, que o
Instituto Moreira Salles exibe até 28 de junho, no Rio de Janeiro.
Reunindo 172 obras do acervo de instituições
renomadas como o Museu de Arte Moderna de New York e o Museum of Fine Arts de Houston,
além de itens da coleção pessoal do artista e das galerias Cheim & Read e
Victoria Miro, a mostra representa a maior exposição individual do artista já
realizada no mundo.
Considerado um dos maiores nomes da fotografia
americana da segunda metade do século XX, Eggleston costuma ser associado ao
grupo de fotógrafos – entre eles William Klein, Robert Adams, Martin Parr,
Jurgen Teller, entre outros –, surgidos durante o pós-guerra, dotados do mesmo
inconformismo e desconfiança em relação a hipocrisia da sociedade e de seus
líderes. Decididos a não desperdiçar suas vidas, como os garotos, pouco mais
velhos do eles, lutando uma guerra sem sentido, assim como seus colegas
geracionais literários, os Beatniks, empreenderam uma viagem aos cantos mais
obscuros dos Estados Unidos para registrar a América Profunda, munidos de suas
máquinas e o desejo de descoberta.
A jornada de Eggleston, no entanto, começa nas
dependências de seu próprio quintal. Nascido em Menphis, Tennesee, cresceu sob
o ambiente marcado pela tensão racial, indignado com a desigualdade social de
uma região, ainda fortemente presa a seu passado escravocrata, e seduzido pela
beleza das pessoas simples e a musica. Entre 1960 e meados da década seguinte,
o fotógrafo se dedicou a registrar, ainda sem pretensões artísticas, o universo
do Sul do país, em cujo entorno, atuavam personagens como Martin Luther King e
Elvis Presley, mas, principalmente, as pessoas comuns e a vida simples nos subúrbios.
O fotógrafo é reconhecido por abrir novas
fronteiras para o gênero fotográfico. Marcadas por cores vibrantes, suas
imagens vão além do registro cotidiano e dos personagens que protagonizavam o
momento histórico, marcado pela ambição de um país recém-saído de uma campanha
vitoriosa no maior conflito bélico jamais visto, como líder das nações livres,
e decidido a assumir como missão abraçar a promessa grandiosa do futuro,
fazendo vista grossa para as falhas de seu passado. Sendo assim, a lente de
Eggleston também mirava carros, outdoors, fachadas de supermercados e outros
objetos que representavam a sociedade de consumo capitalista e sua modernidade
em contraste com sua realidade desigual e anacrônica.
Há uma canção de Neil Young que diz:
“there´s more to the Picture than meets
the eye”. Poucos artistas
me remetem tanto ao verso do que Eggleston. Especialista em revelar a intensa
maravilha do óbvio, esse “mais” de que fala Young e que suas imagens nos
induzem a procurar está sempre presente, embora nunca de forma explícita. Ele
fotografa o que vê, mas parece ter o foco no que está além dos olhos. Pelo
menos, é a impressão que temos ao passear pela exposição e folhear o belo
catálogo que a acompanha.
Como o amigo aqui escreve mais como admirador
do que verdadeiro especialista na área, talvez não tenha ficado claro o que
tentei dizer no último parágrafo. Sendo assim, aproveito para sugerir um
documentário sobre o fotógrafo, disponível na internet, William Eggleston in The Real World, de Michael Almereyda, de 2005.
O diretor do filme se propõe a acompanhar o
fotógrafo para registrar seu processo criativo. É na simplicidade com que ele
passeia, acompanhado apenas de seu filho, Winston, como ajudante, por lojas,
praças e ruas, conversando com gente que passa, observando um poste de luz, um
cachorro ou uma escada, é que temos a certeza de que, naquela foto conhecida e
que faz parte da exposição do IMS, há muito mais do que um triciclo infantil,
largado sozinho.
Com curadoria de Thyago Nogueira, fico na
torcida para que a mostra chegue a São Paulo e outras cidades. O
Livro-catálogo, de mesmo título, também vale a pena o investimento. Além de
reprodução das obras que fazem parte da mostra, traz textos inéditos de David
Byrne, Geoff Dyer, Richard Woodward e do curador, Thyago Nogueira.
Serviço:
Exposição:
William Eggleston, a
Cor Americana
Local: Instituto
Moreira Salles
Endereço: Rua Marques
de São Vicente, 476 – Gávea – Rio de Janeiro – RJ
Livro:
William Eggleston, a Cor Americana
Vários Autores
Editora: IMS
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