A Jornada de Benjamin
Depoimento histórico
de valor inquestionável e obra inaugural do gênero literário de relatos de
viagens, O Itinerário de Benjamin de Tudela, aporta nas livrarias brasileiras.
Por César Alves
Talvez um dos mais importantes registros sobre
as rotas de comércio e o modo de vida dos povos da Europa, África e Ásia,
durante a Idade Média, O Itinerário de
Bejamin de Tudela chega às livrarias brasileiras numa bela edição da
editora Perspectiva sob a dedicação e os cuidados do professor Jacó Guinsburg.
Baseada nas anotações feitas pelo rabino
Benjamin (1130-1173) que, em meados do século XII, teria empreendido uma
jornada de aproximadamente uma década através dos territórios citados – no
período que coincide com a conquista da Península ibérica, entre a segunda e a
terceira Cruzadas, e antes da ascensão de Saladino –, a obra surpreende por
anteceder em aproximadamente cem anos As
Viagens de Marco Polo, famoso relato do mercador, embaixador e explorador
veneziano.
Partindo de Tudela, ao norte da Espanha, rumo à
Terra Santa, o que deveria ser uma rápida viagem de alguns meses, acabou se
transformando numa aventura muito além da planejada peregrinação à Jerusalém, com
longas escalas durante as quais o rabino Benjamin procurou visitar comunidades
judaicas e não judaicas, informando-se sobre seu estilo de vida, os governos
vigentes, suas tradições, cultura, economia e, acima de tudo, suas populações.
A narrativa revela o olhar atendo do viajante maravilhado
diante de tudo o que vê, o que a torna uma espécie de Guia de viagens, repleto
de endereços úteis, para os peregrinos judeus do período, contendo informações sobre
as cidades que ofereciam hospitalidade aos viajantes, como Montpellier, Gênova
e Constantinopla, por exemplo.
Aqui também são descritas as condições
econômicas dos mercadores de Barcelona, Montpellier e Alexandria, e também
quais eram as principais atividades dos judeus, descrevendo o dia a dia dos
tintureiros em Brindisi, tecedores de seda em Tebes, curtidores de couro em
Constantinopla e vidraceiros em Alepo e Tigre. O relatório também inclui informações
demográficas sobre as comunidades judaicas de algumas cidades da época: 20
judeus em Pisa, 40 em Lucca, 200 em Roma, 300 em Cápua, 500 em Nápoles, 600 em
Salerno, 20 em Amalfi, entre outras.
Em seu diário de viagem, o rabino tomou o
cuidado de registrar os nomes das principais lideranças comunitárias das
regiões por onde passou; das cidades que possuíam boas escolas para estudos
judaicos, como Montpellier, ou como Lunet, onde a comunidade subsidiava a
educação dos jovens. Mencionou, também, a existência de uma escola de medicina
cristã em Salerno e chamou-lhe a atenção, por exemplo, os acadêmicos de Constantinopla
por serem dotados de um profundo conhecimento da literatura grega.
Durante sua viagem, Benjamin visitou igrejas e
mesquitas. Descreveu Roma como “a capital do cristianismo, governada pelo papa,
seu líder espiritual”. Constantinopla, em suas palavras, “sedia o trono dos
patriarcas gregos, pois estes não obedecem ao papa”. Em suas andanças
descobriu, ainda, que as cidades de Trani e Messina eram os principais pontos
de partida dos peregrinos cristãos à Terra Santa.
Compondo um panorama histórico e geográfico de
seu tempo, O Itinerário de Benjamin de
Tudela confirma-se como registro histórico de relevância inquestionável. O
livro deve agradar muito os historiadores e pesquisadores da Idade Média, mas
também pode ser apreciado pelos leitores comuns que certamente irão se sentir parte
da jornada realizada pelo rabino Benjamin, seduzidos pelo deleite da escrita de
fácil leitura e a riqueza de seus relatos.
Serviço:
O Itinerário de
Benjamin de Tudela
Organização e
Tradução: J. Guinsburg
Editora: Perspectiva
160 páginas
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