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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O Soldado Dave Brubeck e a Grande Lição de um Pai



O Soldado Dave Brubeck e a Grande Lição de um Pai

por César Alves

Antes de se tornar legenda no capítulo piano da história do Jazz, Dave Brubeck alistou-se como voluntário na expectativa de ir para o campo de batalha e fazer a diferença durante a 2ª. Guerra. O ano era 1942 e, apesar de não da maneira como esperava, ele fez. Amante das teclas desde criança, filho de uma pianista de formação clássica, responsável por suas primeiras aulas no instrumento e por despertar seu interesse pela música, muito novo Dave dava sinais de uma carreira promissora.

A descoberta de sua paixão e veículo através da qual expressaria seu talento chegou pelo rádio. Aparelho revolucionário e peça das mais importantes para um século que chegara para escancarar as portas do futuro, o rádio era a maravilha moderna capaz de captar as ondas sonoras que traziam ao jovem Brubeck as batidas fortes de uma música nova e selvagem. Embora desse a impressão de ter sido enviado como presente por civilizações mais avançadas de planetas muito distantes, o ritmo que o conquistara tinha suas origens nas comunidades negras de New Orleans e de lá se espalhado pelo país, assumindo o Harlem como residência oficial. Se o século vinte seria o século do futuro, o jazz era a trilha sonora dos homens do amanhã. Sua popularidade havia rompido as barreiras raciais que poucos anos antes pareciam intransponíveis e, se ainda faltava muito para que a luta pelos direitos civis ganhasse força e se tornasse uma realidade, pode-se dizer que os primeiros passos foram dados ai.

Graças à onda do swing e o sucesso das Big Bands nas primeiras décadas do século, brancos e negros se divertiam juntos em casas históricas como o Savoy. Dave queria fazer parte dessa história, mas no caminho surgira o conflito que definiria a política do século e a ameaça fascista parecia motivo o suficiente para adiar qualquer sonho.

É ai que reencontramos o soldado Brubeck do início do texto. Parte da minoria branca que não aceitava o segregacionismo racial dominante em seu país, Dave ficou chocado ao saber que, mesmo em tempos de guerra, tal pensamento vingava dentro do exército. Até o sangue para transfusão era separado entre, sangue branco, para soldados brancos; e negro, para soldados negros.

Logo após aportar na Europa, já acampado com seu regimento num posto aliado, aguardava às ordens para sua primeira missão. Foi durante a visita de um grupo de artistas, num dos eventos promovidos para distrair as tropas, que perguntaram entre os soldados se havia alguém capaz de tirar algumas notas no piano. A trupe tinha o instrumento, mas não o instrumentista. Já sentindo falta das teclas, Brubeck não perdeu a oportunidade e se ofereceu.

Sua performance agradou tanto que recebeu ordens de seus superiores para formar uma banda do exército. Acatou as ordens, porém fez questão de incluir negros entre seus músicos. Brigou principalmente por dois nomes, Gil White, mestre de cerimônias, e Richard Flowers, trombone. Em suas palavras, “se havia segregacionismo no exército, na Dave Brubeck Wolf Pack Band (nome que dera ao projeto) não haveria!”

A história está bem documentada na série “A história do jazz” de Ken Burns. Brubeck conta que, ao final da guerra, logo após desembarcar com seus músicos num porto Norte-Americano, decidiram todos almoçar e beber para comemorar. O dono do estabelecimento recusou-se a servi-los, alegando que, se eles insistissem em comer ali, os negros do grupo teriam que se alimentar na cozinha. Brubeck recusou e, ao saírem, ouviu de Richard Flowers: “Acabo de voltar de uma guerra que não era minha, disposto a dar meu sangue pelo meu país. Vi coisas que vão ficar comigo para sempre, como uma marca em minha alma. E, agora, nem posso me sentar para beber na mesma mesa que vocês, meus amigos. Qual o motivo daquilo tudo porque passamos?”

No mesmo episódio, o pianista conta que aprendeu a respeitar as diferenças com seu pai. Lembra-se do primeiro homem negro que viu. Segundo Brubeck, ainda era criança quando, certo dia, seu pai o chamou. “Quero que conheça meu amigo, filho.” Ao chegarem na casa desse amigo, que era negro, seu pai pediu: “Tire a camisa e mostre as suas costas para ele.” Havia marcas de açoites cicatrizadas deformando todo o corpo do homem. De forma severa, seu pai lhe disse: “Trouxe você aqui para que entenda, filho. Agora você tem idade para compreender e é bom guardar bem essa imagem. Esse tipo de coisa não pode acontecer nunca mais!”

Bons pais fazem grandes homens!

sábado, 30 de novembro de 2013

US 69 - Yesterday´s Folks (1969) - Disco




US 69 – Yesterday´s Folks (1969)
por César Alves


A primeira vez que ouvi esse disco foi na Galeria do Rock, na loja do Alberto, amigo e fornecedor de velharias sixties durante os anos 90. Uma daquelas pérolas obscuras do período que pouca gente conhece e deveria de tão bom. É o único disco que conheço desses caras e, correndo o risco de estar errado, também o único que gravaram.

Adoro a palavra, mas odeio usar o termo “psicodélico” quando o assunto é musica. Afinal, pode se referir a muita coisa e, algumas sem a menor relação, englobando dos 13th Floor Elevators aos Beatles, passando por Spacemen 3 e Mercury Ver e também Steppenwolf e Iron Butterfly – até o Serguei afirma ser psicodélico. Mas, no caso do US 69 e suas viagens musicais lisérgicas, não consegui encontrar outra definição. Sendo assim, dentre as diversas formas do universo rock psicodélico, eles estão no meio termo entre o que chamavam Psychedelic Folk e Psychedelic Jazz e se enquadram na categoria de bandas como The Insect Trust, que uniam pesquisa de efeitos sonoros eletrônicos que buscavam reproduzir no ouvinte as sensações de uma viagem de ácido, conduzidas por um amálgama de gêneros como o rock, o folk e o jazz.

Eram liderados pelo guitarrista e compositor Bill Durso. O time também contava com o baterista Bill Cartier e o baixista e flautista, Gil Nelson.

Sempre tive uma curiosidade a respeito dos outros dois integrantes que completam a cozinha; os irmãos Bob e Don DePalma, ambos multi instrumentistas, ambos de formação clássica e ambos oriundos da escola do jazz. Os irmãos DePalma possuem alguma relação com o cineasta Brian? Nunca encontrei nada a respeito. Não é só por causa do sobrenome, mas também porque descobri que, depois do US 69, durante os anos 70, a dupla passou a trabalhar para a indústria cinematográfica, conduzindo sonoplastia e compondo trilhas sonoras. Se algum de meus queridos amigos e amigas sabe se são parentes ou não, gostaria de saber.

Curiosidades à parte, trata-se uma excelente banda e ótimo disco e recomendo. É o tipo de álbum que se deixa rolar de cabo a rabo numa tarde de sábado ou dia de folga com os amigos ou sozinho, como trilha sonora da preguiça.
 
Difícil escolher uma parte de um disco cuja experiência real, só é completa no todo, mas destaco “African Sunshine” e a faixa de dez minutos que encerra a obra, “2069 – A Spaced Oddity”, certamente inspirada no filme de Kubrick e na obra de Arthur C. Clark, mas seria também uma referência a David Bowie?