A desconstrução do
cérebro e a criação da nova mente
Inventor, futurista e
visionário da Era Tecnológico, Ray Kurzweil propõe a engenharia reversa do
cérebro humano, como receita para a criação das futuras máquinas inteligentes
perfeitas.
Por César Alves
O homo
sapiens, até o momento, parece ser a única espécie surgida neste planeta cujo
sucesso evolucionário, além de alçá-lo ao topo da cadeia alimentar na luta pela
sobrevivência, também inaugurou um novo degrau evolutivo pós-seleção natural.
Através da observação, coletada, registrada e
transmitida uns aos outros sobre o funcionamento da natureza a sua volta; e da
criação e invenção de instrumentos, talvez, não seja um completo exagero dizer
que a humanidade passou para um novo estágio. Agora não só se adapta ao
ambiente, como também, desde que abandonou o nomadismo, o homem adapta a ele o
mundo em sua volta.
Como já defenderam muitos estudiosos, esse novo
estágio segue por duas linhas evolutivas separadas que, paralelamente, seguem
na direção do mesmo destino: a da técnica e do pensamento. Da lança ou míssil
balístico e foguetes que nos levaram à lua; da escrita cuneiforme ao e-mail e
os modernos computadores de bolso, ambas as linhas são guiadas e impulsionadas
pelo mesmo motor e principal acessório biológico da espécie: o cérebro.
Desde que o matemático e criptógrafo, Alan
Turing, um dos pais da ciência da computação, vislumbrou o futuro de máquinas
inteligentes, que teria sido desencadeado pelo surgimento dos primeiros
computadores, lançando as bases do moderno conceito de Inteligência Artificial,
ainda em meados dos anos 1950, parece ter ficado claro que o próximo passo da
invenção humana passaria pelo desafio de dar aos instrumentos, frutos de sua
capacidade técnica, o dom do pensamento.
Décadas à frente de seu tempo, os conceitos e
teorias abordados por Turing décadas atrás, em parte, já são realidade. Afinal,
vivemos em um mundo de máquinas inteligentes. Mas seus conceitos foram muito
além dos aparelhos celulares que conversam e atendem ao chamado de voz do
proprietário, computadores que jogam xadrez e drones que espionam e bombardeiam alvos inimigos, sob um comando
feito a quilômetros de distância. Ele vislumbrava um mundo em que as máquinas
seriam capazes de igualar de forma tão profunda o raciocínio e intelecto humano,
inclusive em suas complexidades, ao ponto de se tornar impossível a distinção
entre uma pessoa e uma máquina, durante uma conversa.
Essa etapa, segundo defende, o inventor e
futurista, Ray Kurzweil, também está mais próxima do que pensamos – em
entrevistas, chegou a datar 2029 como o ano do surgimento das primeiras
máquinas inteligentes. O segredo, conforme aposta em seu livro, Como Criar Uma Mente, que acaba de sair
no Brasil pela Editora Aleph, está na compreensão do funcionamento de nosso
cérebro, processador da mais complexa e perfeita máquina biológica conhecida, o
corpo humano.
A obra, que acaba de sair no Brasil pela
Editora Aleph, busca desvendar os segredos do pensamento humano e propõe que a
entrada na era das máquinas inteligentes prevista por Turing passa por um
processo de engenharia reversa do cérebro humano para desvendar seu funcionamento,
principalmente de nosso neocórtex – exclusividade do cérebro de animais
mamíferos, que é responsável por nossa capacidade de lidar com padrões de
informação de forma hierárquica.
Para o autor, tal característica do cérebro
biológico, é fundamental para a construção da mente artificial perfeita e,
inspirado na maneira como são processadas as informações pelo neocórtex humano,
desenvolveu uma Teoria da Mente Baseada em Reconhecimento de Padrões, descrita
no livro.
Mas, ao
contrário do que alguns leitores poderiam supor, suas idéias vão além da teoria.
Para comprovar o que fala, Kurzweil se apóia em diversos projetos e estudos em
andamento com esse propósito, além das mais recentes descobertas no estudo
científico sobre o funcionamento do cérebro e como tais avanços da neurociência
colaboram com o desenvolvimento da inteligência artificial.
Atual Diretor de Engenharia do Google e fundador da Singularity University, Kurzweil,
classifica-se como uma das mentes contemporâneas dotadas do mesmo intelecto
visionário de Alan Turing. Autor de The
Age of Intelligent Machines (A Era das Máquinas Inteligentes), que ganhou o
Association of American Publisher´s Award
de Melhor Livro de Informática de 1990.
Além de apresentar um apanhado do que vem
acontecendo na vanguarda dos avanços e descobertas em neurociência e tecnologia
atualmente, Como Criar Uma Mente faz
um apanhado dos principais exercícios mentais, realizados por gênios como
Charles Darwin e Albert Einstein para comprovar suas teorias, responsáveis
pelos maiores avanços no conhecimento científico dos dois últimos séculos, além
de sugerir ao leitor exercícios para comprovar suas próprias teorias. O livro também
aborda a interface Homem-Máquina e demais temas pertinentes ao tema e que
estarão cada vez mais em voga nas próximas décadas.
Dele, a editora Aleph já havia publicado
anteriormente A Era das Máquinas
Espirituais, que recomendo como leitura essencial para compreender esse
nosso admirável mundo novo e as grandes expectativas que o futuro nos reserva.
Serviço:
Título: Como Criar Uma
Mente
Autor: Ray Kurzweil
Editora: Aleph
400 páginas
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