Lendas e Curiosidades
de um Conflito
Historiador espanhol
compila curiosidades fatuais, mitos e lendas da Segunda Guerra Mundial em livro.
Por César Alves
Para muitos, a Segunda Guerra Mundial é apenas
o capítulo mais marcante de um conflito iniciado com a explosão da primeira e
que, ao contrário do que os livros da história podem nos induzir a acreditar,
não teria terminado com a derrota dos países do Eixo, mas prosseguido com a
Guerra Fria. Desse ponto de vista, crises bélicas, como a recente tensão na
Ucrânia e o – ainda longe de alcançar uma solução pacífica – conflito Israel e
Palestina, seriam continuação de um mesmo momento histórico e, dessa forma,
teria durado por todo o século passado e ainda continuaria viva, nos dias de
hoje.
Teorias históricas a parte, certo é que a
Segunda Guerra sempre irá atrair nossa atenção devido ao que tem de monstruoso,
heróico, exemplo de superação e do que a humanidade possui de melhor e pior e
como tais características afloram e se mostram claras durante momentos de
crise.
Talvez, isso explique porque o conflito ainda
ser tão presente em nossas vidas e continua sendo assunto inesgotável para
livros; tanto factuais quanto ficcionais, filmes; documentários, cinebiografias
e pano de fundo para roteiros de aventura, dramas históricos e até comédias. Tanto
para aqueles que viveram o período, quanto para os nascidos depois, o último
grande confronto global faz parte do inconsciente coletivo de nossa
civilização, e continua atraindo atenção pelo impacto causado na ordem geopolítica
de seu tempo e que ainda reverbera em nossos dias, pelos fantasmas que deixou e
sempre voltam para nos assombrar, por seus protagonistas notórios e sua
atuação, mas também pelo que tem de mítico e curioso.
É justamente sobre o lado mítico, lendário e
curioso do evento que se debruça o historiador e jornalista espanhol, Jesús
Hernández, autor de Historias Curiosas da
2ª. Guerra Mundial, que acaba de ganhar edição brasileira.
Ao contrário de outros livros sobre o tema, o
autor aqui passeia por personagens – anônimos e notáveis – que, de uma forma ou
outra, estiveram envolvidos, como protagonistas de momentos decisivos ou apenas
coadjuvantes, lançados em meio ao furacão bélico por circunstâncias diversas.
Trata-se de uma coleção de histórias pouco exploradas como a paixão de Hitler
pelo busto de Nefertiti, ao ponto de arriscar perder um aliado e ponto
estratégico importante, criando um mal estar com o Egito, ao se recusar a
devolver a peça ao Museu do Cairo; o uso do carro de Al Capone por Roosevelt e
o papel de mafiosos, como Lucky Luciano, na tomada da Itália, aqui são
explorados, revelando o que possuem de lenda e fato.
Apesar de manter a seriedade que o tema merece,
a obra oferece uma leitura diferente da maioria dos livros sobre a 2ª. Guerra
com os quais estamos acostumados. Sua escrita simples e a narrativa fazem de
Historias Curiosas da 2ª. Guerra Mundial excelente leitura tanto para leigos quanto
especialistas. Leitura agradável para o leitor comum e também fonte de pesquisa
para estudiosos.
Se nada disso despertou a curiosidade, do amigo
ou amiga, para conferir o livro, quando se deparar com ele nas prateleiras de
sua livraria predileta, talvez, histórias com a descrita abaixo o faça:
Picasso e o Oficial
Nazista
Contrariando os conselhos de amigos e
colaboradores, Pablo Picasso, um dos muito residentes ilustres de Paris,
decidiu que ficaria na França, mesmo depois da invasão alemã, em 1942. A retomada
das hostilidades, apesar do armistício assinado por ambas as nações três anos
antes, e o conhecido tratamento dado pelas forças nazistas aos que não
concordavam com sua doutrina, como era o seu caso, eram motivos mais do que
suficientes para que tal atitude fosse vista como ato suicida ou de muita
coragem – verdadeira insanidade, para muitos.
Apesar de declarar-se abertamente contrário aos
nazistas, o artista, no entanto, foi poupado das perseguições pelo governo
invasor, devido à popularidade e o respeito que tinha mundo afora, defendem
historiadores. O que não o livrou de ser alvo de vigilância constante. Afinal,
embora não tenha chegado a integrar as fileiras da Resistência Francesa,
Picasso não escondia seu apoio e era visto como um companheiro de luta pelos
que integravam a causa.
Na esperança de convencê-lo a mudar de lado e,
assim, poder contar com o apelo propagandístico que seu nome poderia angariar
para a popularidade do novo governo, políticos e oficiais alemães tentavam
seduzi-lo com mimos, privilégios e presentes – principalmente, material de
pintura, muito escasso, devido à guerra. Tais visitas ao ateliê do pintor eram
quase diárias, nas quais faziam elogios, reforçavam sua admiração por seu
trabalho e pareciam irritar profundamente Picasso.
Numa delas, conta-se que Otto Abetz, embaixador
Alemão em Paris, durante a ocupação, teria apontado para a reprodução de uma
obra, exposta em uma das paredes, e perguntado:
_ Obra sua, mounsier
Picasso?
_ Não. Obra sua!
Respondeu o artista.
Tratava-se de uma reprodução de Guernica, obra-manifesto contra a
desumanidade da guerra, pintada por Picasso após o bombardeio sofrido pela
cidade basca, em 26 de abril de 1937, perpetrado por forças alemãs.
*.*
Se o diálogo e a situação realmente aconteceram,
a história acima é, no mínimo, um deleite, tanto como mito, quanto como fato
histórico.
Serviço:
Título: Histórias
Curiosas da 2ª. Guerra Mundial
Autor: Jesús Hernández
Editora: Madras
340 páginas
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