Volta às livrarias, Violent Cases, primeira Graphic Novel da
parceria Gaiman e McKean
Por César Alves
Literalmente, Violent Cases poderia ser traduzido por Casos Violentos, mas a graphic
novel que inaugurou a parceria fértil entre Neil Gaiman e Dave McKean – e
que acaba de ser relançada, em edição de luxo da editora Aleph – traz, já no
título, uma de suas características mais marcantes: o jogo de palavras e os
aspectos nebulosos da memória.
O título faz uso da semelhança de sonoridade
que as palavras, Violent e Violins (violinos), podem ter quando
pronunciadas. Associado à palavra Case,
que tanto pode significar Caso como
também Estojo, Violent Case é como o narrador da história se lembra de ter
entendido quando o pai lhe contara sobre os estojos de violino em que os
mafiosos italianos guardavam suas metralhadoras Tommy Gun, durante a Lei Seca.
Publicada originalmente em 1987, Violent Cases é normalmente citada entre
as obras que, no ano anterior, redirecionaram o segmento a um novo público e
abriram os olhos daqueles que se recusavam a dar ao formato das histórias em
quadrinhos o status de arte, como O
Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore. Diferente destes títulos, no entanto, a
obra de Gaiman e McKean não se alinhava no imbatível gênero “super-heróis”.
Trata-se das memórias confusas de uma infância brutal, narrada por um
personagem que, aos quatro anos de idade, teria conhecido, através do pai, um
médico osteopata que teria trabalhado com o gangster Al Capone.
Nascida como um conto escrito por Gaiman, Violent Cases se divide entre os relatos
de dois personagens. O narrador, agora adulto, tenta se lembrar dos dias em
que, depois de ter seu braço quebrado pelo pai – a narrativa não deixa claro se
por acidente ou por um caso de violência doméstica –, que o leva para se tratar
com um amigo seu, o esteopata de Capone.
A trama entrelaça memórias pessoais do garoto
com as histórias que ele ouvira de seu médico, resultando numa narrativa
experimental em que passagens da vida de uma criança se confundem entre fato e
ficção, imaginação e as histórias violentas que ele ouvira durante sua rápida
relação com o doutor. Tudo isso, associado aos desenhos de McKean oferecem um
resultado textual e visual impressionante, quase cinematográfico. A sequência
em que, durante uma festinha de aniversário, crianças dançam, cantam e brincam
de dança das cadeiras, com a narrativa do médico sobre Al Capone, em um de seus
rompantes de fúria, destroçando com um bastão de baseball as cabeças de seus desafetos, como quem quebra uma piñata de doces, é brilhante.
Na época, Gaiman, que logo se tornaria uma
estrela no universo dos comics como
autor da série Sandman, pretendia escrever uma historia que pudesse ser lida
por qualquer pessoa e que pudesse revelar de forma definitiva o potencial das
Graphic Novels. Em sua preferência por explorar as profundezas da memória,
fatos e personagens reais, está mais próxima de obras da mesma época, não menos
revolucionárias, como Maus, de Art
Spigealman, e The Dreamer, de Will
Eisner, e também pode estar no início de um fio condutor que abriria as portas
para a premiadíssima Persépolis, de
Marjane Satrapi, por exemplo.
Fora das prateleiras desde que HQM Editora a
lançou por aqui pela última vez, a nova edição da Aleph traz textos depoimentos
de seus autores, Gaiman e MacKean, e apresentação do celabrado Alan Moore.
Serviço:
Título: Violent Cases.
Autor: Neil Gaiman.
Ilustrador: Dave
McKean.
Tradução: Érico Assis.
Número de páginas: 64.
Editora: Aleph.
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