Trilogia do Terror – Candeias, Mojica e Person
por César Alves
Lançado em 1968 A Trilogia do Terror (não confundir com o nome que recebeu por aqui
o filme Body Bags do John Carpenter)
é uma produção cinematográfica de Antonio Polo Galante da era de ouro da Boca
do Lixo de São Paulo.
A idéia do filme partiu do
programa semanal de José Mojica Marins Além, muito além do além – qualquer
semelhança com o clássico enlatado americano Além da imaginação (The Twilight Zone) não é mera coincidência –, que fazia sucesso
na época, exibido pela TV Bandeirantes e é composto de três histórias dirigidas
por três dos diretores mais criativos do cinema de São Paulo. Embora todas as tramas
tenham o sobrenatural e o terror psicológico como pano de fundo, cada uma delas
traz características próprias de seus realizadores.
Sob a direção de Ozuldo Candeias,
O acordo conta o drama de uma mãe
desesperada por “curar” e desencalhar a filha, acabando por fazer um acordo com
o “das profundas” para resolver seu problema. Em troca, o tinhoso pede o
sacrifício de “uma donzela”. Com narrativa fragmentada, o episódio tem várias
das características que marcaram a trajetória de Candeias, como a predileção
por climas rurais, muitas vezes remetendo ao western americano, cultos
populares e a boa velha sensualidade rústica, que não deve ser confundida com
mera sacanagem (ehehehe).
Prestem atenção na trilha sonora
incidental do Rogério Duprat que mescla experimentalismos como a cacofonia,
guitarras elétricas com fuzz, microfonia e violas caipiras, remetendo aos
arranjos que, na mesma época, o maestro produzia para aqueles maravilhosos
álbuns tropicalistas. Alguém precisava tentar recuperar isto e lançar em disco.
Já Luis Sérgio Person buscou
inspiração no conto de terror clássico de nosso folclore, A procissão dos mortos. A história é conhecida e possui várias
versões (vide Câmara Cascudo). Na mais famosa reza sobre uma fofoqueira que
gostava de bisbilhotar os outros pela janela e certa noite ouve um barulho e
abre a janela para ver o que é. Dá de cara com uma procissão silenciosa. Um dos
que seguem o grupo se aproxima e lhe dá uma vela para que a guarde, pois virá
buscar na noite seguinte. Já de manhã, a velha descobre que a tal vela é na
verdade um osso humano! Minha avó costumava tirar meu sono com essa história,
mas Flávio de Carvalho provou, com sua “Experiência No. 2”, que a procissão dos
vivos pode ser mais perigosa, né? Apesar de aproveitar o título do conto,
Person subverte a história substituindo os beatos do além túmulo por
guerrilheiros fantasmas, numa clara referência ao contexto político do momento.
O mestre do terror brasileiro,
José Mojica Marins, explora o lado psicológico do horror. Seu episódio, Pesadelo macabro, fala de Cláudio, rapaz
atormentado pelo medo de ser enterrado vivo. Devo confessar que também guardo
este medo desde que li o conto do Edgar Allan Poe, então, se eu me for antes de
vocês, façam-me o favor de providenciar “furos de respiro” em meu caixão, como
fez o caçula dos Brunden, Vardaman, para sua mãe.
Brincadeiras pretensiosas (só
para citar Faulkner) à parte, aqui estão lá todas as cobras, lagartos, aranhas,
ratos e os fantásticos rituais sadomasoquistas que nos fazem amar esse cara.
Foi lançado ha pouco tempo em
DVD, mas pode ser visto completo, dividido em partes de dez minutos, pelo
Youtube.
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